Estrutura e Espontaneidade na Mímesis Corpórea e na Mímesis da Palavra como Premissas para se pensar Presença Cênica

  • Andressa Moretti Silva Universidade Estadual de Campinas

Resumo

Nesta pesquisa discutimos os conceitos de estrutura e espontaneidade partindo das metodologias de mímesis corpórea e mímesis da palavra, desenvolvidas no LUME (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais - UNICAMP).

A coleta de material para esta pesquisa ocorre através da observação de travestis e transexuais, em ruas, boates e no bairro Jardim Itatinga, em Campinas. Partindo da coleta destes materiais e utilizando procedimentos da mímesis corpórea, experimentamos maneiras de estruturar no corpo/voz do ator uma gama de ações observadas. Utilizamos essa experiência para refletir sobre o binômio estrutura e espontaneidade, sobretudo no que diz respeito à estruturação e codificação do material coletado a partir da observação. Através da prática discutimos presença cênica na relação estrutura e espontaneidade e analisamos de que maneira isso ocorre em um trabalho de atuação.

De acordo com o LUME, a mímesis corpórea é uma metodologia de criação de ações físicas e vocais que busca a poetização e teatralização dos encontros afetivos entre um atuador-observador e corpos/matérias/imagens. O pressuposto da mímesis corpórea é que esse encontro potencialize a transformação e recriação do corpo singular daquele que atua-observa. Na mímesis da palavra a observação encontra-se em um corpo-imagem-sensação acessado pelas imagens de textos, poemas e falas do cotidiano. Participo de treinamentos coletivos com outros atores que pesquisam mímesis corpórea e coleto matrizes corporais a partir da observação de travestis, transexuais, textos e filmografia relacionada. A partir desses procedimentos pensamos sobre a presença cênica. Encontrar uma definição para presença cênica não é uma tarefa simples, pois as noções são múltiplas e às vezes contraditórias. Para Eugenio Barba, por exemplo, presença é o que age sobre o espectador (Féral, 2001, p.97), para a diretora canadense Pol Pelletier, é mais uma consciência do corpo do que algo a ser adquirido por métodos precisos de trabalho físico, se liga a uma coerência entre o corpo do ator, sua face, seu sistema fônico e sua imaginação (Féral, 2012, p.27). Ariane Mnouchkine, por sua vez, não utiliza o conceito de presença cênica em seu trabalho, mas acredita que o ator deva estar no presente, agir e reagir concretamente e deixar-se agir de acordo com o jogo. Ancorada em minhas experiências práticas, acredito que o treinamento seja um caminho possível para atingir efeitos de presença cênica, mas amplio a questão para refletir sobre como manter e transformar o estado de presença do treinamento para a criação, ou seja, como construir poeticamente com este corpo potencializado pelo treinamento e como retomá-lo em improvisações e criações cênicas, recriando-o no encontro com o espectador. Penso que atrelar o treinamento às práticas da mímesis corpórea seja uma boa maneira de aprimorar essa investigação porque a mímesis conduz à criação de matrizes corpóreo-vocais e consequente poetização das mesmas.

Palavras-chave: Presença Cênica, Mímesis Corpórea, Mímesis da Palavra, Estrutura, Espontaneidade.

Publicado
2017-01-15
Edição
Seção
Documentos de Iniciações Científicas