Guerra dos Graves: da quebra de Xangô ao funk na baixada santista

  • Guilherme de Castro Duarte Martins Instituto Federal de Goiás

Resumo

Sons, enquanto forças vibracionais, participam também nas composições de corpo e território -  compondo-nos e sendo por nós compostos a cada instante. Pretendo investigar nesse artigo dois episódios em que populações marginalizadas, cujos corpos reuniam-se ao redor de frequências graves (atabaques e subwoofers) para dançar, tiveram seus ritos e bailes silenciados e seus corpos individuais e coletivos desmobilizados por ações repressoras. Tratarei, a partir da pesquisa etnográfica do brasileiro Ulisses Neves Rafael (2010), do episódio que ficou conhecido como "Quebra de Xangô", ocorrido em 1912 no estado de Alagoas, quando diversas casas afro-religiosas foram completamente destruídas por uma milícia civil, fazendo surgir na região uma modalidade única de culto, o "Xangô-rezado-baixo". Em seguida, abordarei os recentes assassinatos em série de 5 jovens MCs do funk, cometidos entre 2010 e 2012 na baixada santista, litoral do estado de São Paulo, por grupos de extermínio da polícia militar. A perseguição e a violência, nesses casos, não é apenas física, mas sonora, acarretando no emudecimento de instrumentos, frequências e batidas em torno das quais corpos se agregavam, e no apagamento das forças vibracionais (audíveis e inaudíveis) que atravessavam esses corpos. 

Referências

Gilroy, Paul. O Atlântico negro. São Paulo: 34, 2012.

Goodman, Steve. Sonic Warfare – Sound, Affect and The Ecology of Fear. Londres: MIT Press, 2012. (Trad. nossa).

Picker, John. The soundproof study. In: STERNE, Jonathan (org.). The sound studies reader. Nova Iorque: Routledge, 2012. (Trad. nossa).

Rafael, Ulisses Neves. « Muito barulho por nada ou o “xangô rezado baixo”: uma etnografia do “Quebra de 1912” em Alagoas, Brasil », Etnográfica, vol. 14 (2) | 2010, 289-310.

Salles, Ecio P. De. O bom e o feio funk proibidão, sociabilidade e a produção do comum. Z Cultural, Ano 3, Vol. 1| 2016, 110-120.

Schafer, R. Murray. The Soundscape. Vermont: Destiny Books, 1993.

Truppin, Andrea. And then there was sound: the films of Andrei

Tarkovski. In: Altman, Rick (org.). Sound Theory and Sound Practice. Nova Iorque: Routledge, 1992. (Trad. nossa)

Publicado
2017-10-15
Edição
Seção
Artigos