Com bigode ou sem bigode, I want to break free: figurinos e con(tra)venções para balançar e rolar
Resumo
Alguns dos tratamentos dados às questões de gênero vieram a se tornar convenções estruturantes de poéticas/estéticas, a exemplo do teatro grego e do kabuki. Esses tratamentos também geraram diferentes modos de relação arte/vida e, por vezes, subversões na construção de imaginários. Pretende-se, então, observar primeiramente as funções ocupadas pelo figurino-caracterização, suas articulações, exigências e correspondências com o corpo-voz. Depois, o alargamento dessas funções em outras perspectivas cênicas, tais como damenimitator e personificadores-cantores, que já se mostram como uma frouxidão nos estatutos das normatividades, conforme a panorâmica traçada nos estudos sobre teoria queer de Laurence Senelick. Dos cabarés, casas noturnas aos shows de rock and roll e reality show RuPaul’s Drag Race, são notáveis as técnicas e objetivos na aproximação ou afastamento das personagens que extrapolam os limites do palco. Mas os dispositivos do mainstream certamente oferecem alcance extraordinário e, por vezes, rapidamente interferindo na construção de regras sociais. Contudo, há ainda outra problemática: a difícil quebra do binarismo. Proponho um diálogo com os estudos de Letícia Lanz sobre a pessoa transgênera intentando abarcar exemplos do uso do figurino nas cenas recentes.
Referências
GARBER, Marjorie. “Dress codes, or the theatricality of difference”. In: Vested Interests: Cross-Dressing and Cultural Anxiety. New York: Routledge, 1992.
HOLLANDA, Heloísa Buarque. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde: 1960/1970. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2004.
KUSANO, Darci. Os teatros Bunraku e Kabuki: uma visada barroca. São Paulo: Perspectiva, 1993.
LANZ, Letícia. O corpo da roupa: a pessoa transgênera entre a transgressão e a conformidade. Dissertação de Mestrado. Curitiba: UFPR, 2014.
SENELICK, Laurence. The Changing Room: sex, drag and theatre. New York: Routledge, 1992.