CARETAS, RISOS E RITUAL RELIGIOSO: UM DIÁLOGO POSSÍVEL NA R(E)ISADA

  • Flavia de Menezes Universidade Federal do Maranhão

Resumo

O presente trabalho trata-se de um recorte da dissertação de mestrado intitulada “A comicidade na R(e)isada: o riso em seus aspectos simbólicos em um grupo de Nazaré do Bruno – Caxias/MA, apresentada o PPG Cultura e Sociedade/UFMA. Na comunicação será discutido os critérios de permissividade da inserção de uma figura “contraventora”, o Careta (o qual compõe a Reisada, manifestação que ocorre no ciclo natalino e que conta com diversas etapas de realização) em momentos rituais, de reza, onde a concentração dos participantes é quebrada pela atuação deste personagem e suas constantes interferências verbais com comentários e paródias durante o acontecimento religioso, favorecendo a ambivalência de riso e seriedade. O estudo foi desenvolvido a partir de observação participante, entrevistas com perfomers e “assistência”, e diálogo com autores como Durkeim (1996), Jeudy (1993), Bergson (2007),Turner (1974), Schechner (2003), Goffman (1985), na elucidação de compreensões sobre fenômeno religioso, riso, comicidade, communitas, liminaridade, comportamento restaurado, interações sociais, dentre outros aspectos, os quais são fundamentais para se chegar aos principais resultados que indicam que esse estado de permissão dialoga com os acordos e situações estabelecidas naquele contexto festivo, perpassando pela constituição visual da “farda” (figurino) do personagem mascarado, todo o corpo do performer é vestido por uma roupa de fibra vegetal, máscara, sua voz e corporeidade são transformadas, e sua identidade tem que ser mantida em sigilo, importante destaca que neste contextos existem regras de conduta impostas a performers e assistência, ficando assim a questão: subversão ou reafirmação?

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Publicado
2018-05-21
Seção
Etnocenologia