POIS É... ISSO! : TRÂNSITOS E TRANSAÇÕES DA TRADUÇÃO TEATRAL

  • Maria de Lourdes Rabetti Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Resumo

A pesquisa documental sobre a, até o momento, considerada primeira montagem de Luigi Pirandello traduzida (por Therezinha Coelho ou Paulo Gonçalves) no Brasil – Pois é... isso [Così è (se vi pare)] – apresentada em 1924 no Teatro Apolo, em São Paulo – abriu-se para a percepção da tradução teatral como objeto subalterno, de segunda classe, tanto no circuito de produção como de recepção, alcançando termos de uma invisibilidade que envolve traduções, montagens, publicações. Ao trabalho com documentos de época aliou-se a observação de mapeamentos de traduções e montagens de Pirandello no Brasil que incidem em reiterações inquietantes quanto a problemas de anonimato e invisibilidade. Dadas a questão relativa à importância e ao significado dos estudos de tradução teatral entre nós, que só recentemente vem sendo colocada, e minha compreensão do lugar subalterno, que se quer fazer invisível, que tradução e figura do tradutor ocuparam historicamente no circuito das relações artísticas e comerciais, penso que facetas e relações inesperadas, obscurecidas e, no entanto, significativas, da história do teatro no Brasil podem ser reveladas. O caminho percorrido em campo teórico e em meio a acervos e seus depósitos documentais parece atestar que se está aqui a cata de agulhas no palheiro e que a micro-história se faz guia importante em busca de um objeto quase transparente, cuja invisibilidade parece ir bem além da esperada no exercício tradutório. Que a busca de pistas contribua para que fatos e escritas submersas da história do teatro no Brasil ganhem alguma espessura em meio a múltiplas relações implicadas.

Referências

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Publicado
2018-05-22
Seção
História das Artes e do Espetáculo