DE NARCISO A YEMANJÁ O ESPELHO DO MAR

  • Lenine Salvador

Resumo

O espelho, a imagem especular estão implicados na construção dos valores de presença. No projeto Artifício, desenvolvo há 5 anos cenários e figurinos que trazem como informação objetos e técnicas de extensões da função do olhar, tais como câmeras, persiana, antena. Especificamente, o objeto da câmera de registro audiovisual, vem sendo explorado como figurino acoplado ao corpo em diversas situações artísticas para o desenvolvimento de figuras. No projeto, a exploração do princípio da reflexividade surge como resposta às situações de exposição especular do público através da câmera. A reflexividade, tem que ver com como o público vê e se expõe à informação da autoimagem como parte da composição nos ambientes de instalação da figura. Em outra margem de experiência artística, desde 2014, o contato com a oferenda da dança para Iemanjá, nas festas populares de Salvador junto ao Bloco De HJ a 8, repercutiu em um outro tom para os estudos sobre o princípio da reflexividade. Nas danças oferendas, o espelho apareceu não mais dependente da solidão do self, no desajuste entre exposição íntima e exacerbação da autoimagem, investigação presente na instalação cênica Artifício (2012). Uma das entidades mais festejadas no Brasil, Iemanjá representa o espelho do mundo, é a mãe que reflete todas as diferenças e protege a cabeça: o “Ori”, que tem haver com a formação do indivíduo. Com essa imagem uterina, a relação com o espelho em Artifício se deslocava de uma crítica à produção de si fincada no mito de Narciso, na paixão através da visão de si que leva à morte, para ganhar a vastidão reflexiva da produção de presença, com a qualidade de gestação, de cuidado e de reconhecimento da alteridade. Como motivo da instalação Artifício II, realizada no Bauhausfest em Dessau na Alemanha, no ano de 2015, a oferenda a Iemanjá cruzou o oceano, materializada na figura da câmera.

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Publicado
2018-06-14
Seção
Territórios e Fronteiras da Cena