Que bicho é esse?: teatro, engajamento e política no Brasil pós-1964

  • Kátia Rodrigues Paranhos Universidade Federal de Uberlândia

Resumo

Teatro popular e teatro engajado são duas denominações, entre outras, que ganharam corpo por intermédio de um vivo debate que atravessou o final do século XIX e se consolidou no século XX. Seu ponto de convergência estava na tessitura das relações entre teatro e política ou mesmo entre teatro e propaganda. Para o crítico inglês Eric Bentley, o teatro político se refere tanto ao texto teatral como a quando, onde e como ele é representado. Este trabalho aborda a importância histórica da peça “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, de Ferreira Gullar e Oduvaldo Vianna Filho, como uma representação política de resistência à ditadura militar no Brasil. Enfatizo como característica fundamental desse musical, encenado em 1966 pelo Grupo Opinião, a mistura de tradições culturais, a predominância do que Eric Hobsbawm designa “canções funcionais” (canções de trabalho, músicas satíricas e lamentos de amor) e a produção/criação artística dos atores/cantores.

Referências

AULA MAGNA DA UFRJ 2006. Rio de Janeiro, Coordenadoria de

Comunicação/Divisão de Mídias Impressas/UFRJ, 2006.

CASTRO, Maurício Barros de. Zicartola: política e samba na casa de Cartola e Dona Zica. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004.

CONTIER, Arnaldo Daraya. Edu Lobo e Carlos Lyra: o nacional e o popular na canção de protesto (os anos 60). Revista Brasileira de História, São Paulo, Anpuh, v. 18, n. 35, p. 13-52, 1998.

COSTA, Armando et al. Opinião. Rio de Janeiro: Edições do Val, 1965.

COSTA, Iná Camargo. A hora do teatro épico. Rio de Janeiro: Graal, 1996.

COUTINHO, Lis de Freitas. “O Rei da Vela” e o Oficina (1967-1982): censura e dramaturgia. São Paulo, 2011. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo.

D’AVERSA, Alberto. Triunfa o jogo do bicho no Galpão. Diário de São Paulo,

São Paulo, 02 out. 1966.

FRANCIS, Paulo. Novo rumo para autores. Revista Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, n. 1, p. 69-78, 1965.

FREITAS FILHO, José Fernando Marques de. “Com os séculos nos olhos”:

teatro musical e expressão política no Brasil, 1964-1979. Brasília, 2006. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira) – Instituto de Letras. Universidade de Brasília.

GOMES, Dias. O engajamento: uma prática de liberdade. Revista Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, Caderno Especial, n. 2, 1968, p. 7-17.

GULLAR, Ferreira. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (em parceria com Oduvaldo Vianna Filho). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

HOBSBAWM, Eric História social do jazz. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

HOLLANDA, Heloisa Buarque de; GONÇALVES, Marcos. Cultura e

participação nos anos 60. 10. ed., São Paulo: Brasiliense, 1995.

ISHMAEL-BISSETT, Judith. Brecht e cordel: distanciamento e protesto em Se correr o bicho pega. Latin American Theatre Review, Kansas, v. 11, n. 1, p. 59-64, 1977.

KÜHNER, Maria Helena; ROCHA, Helena. Opinião. Rio de Janeiro: Relumé

Dumará/Prefeitura, 2001.

MACIEL, Luiz Carlos. O bicho que o bicho deu. Revista Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, n. 7, 1966, p. 289-298.

MICHALSKI, Yan. Reflexões sobre o teatro brasileiro no século XX.

(organização: Fernando Peixoto). Rio de Janeiro: Funarte, 2004.

PEREIRA, Carlos Alberto M; HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Patrulhas

ideológicas, marca reg.: arte e engajamento em debate. São Paulo: Brasiliense, 1980.

PRADO, Décio de Almeida. Se correr o bicho pega... In: Exercício findo: crítica teatral (1964-1968). São Paulo: Perspectiva, 1987, p. 143-145.

RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV. Rio de Janeiro: Record, 2000.

_______________. Cultura e política: entrevista com Ferreira Gullar. Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo, Santa Maria, Dossiê 07, 2012, p. 4-62, (Disponível em http://w3.ufsm.br/grpesqla/revista/dossie07).

TINHORÃO, José Ramos. Um equívoco de ‘Opinião. In: Música popular. São

Paulo: Ed. 34, 1997, p. 72-87.

WOLFF, Fausto. O bicho: começo de arte. Tribuna da Imprensa, Rio de

Janeiro, 20 abr. 1966.

Publicado
2018-08-15
Seção
História das Artes e do Espetáculo