Cartografias de corpos dançantes antropofágicos

  • Mônica Fagundes Dantas Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo

Como bailarina, professora e pesquisadora, tenho estudado os processos de criação coreográfica do ponto de vista do bailarino, como um modo de questionar as relações de poder entre coreógrafos e bailarinos. Interessam-me também as interrelações entre os processos artísticos e a pesquisa acadêmica. Inspirada pelo Manifesto Antropófago (1928), de Oswald de Andrade, proponho compreender o corpo dançante como um corpo antropofágico (DANTAS, 2008). Nesta comunicação, abordo meu próprio corpo como um corpo antropofágico, a partir do meu trabalho como dançarina nas peças Bundaflor, Bundamor e Tempostepegoquedelícia realizadas com a Eduardo Severino Companhia de Dança. Proponho uma reflexão sobre as dificuldades de exposição da intimidade corporal,
oferecendo ao olhar do público o corpo nu e seminu de uma mulher em meio a dois homens, em situação semelhante. Questiono se esse tipo de exposição pode ser considerada uma ação antropofágica e se, ao mesmo tempo, pode contribuir para desacomodar o público no seu “apetite semiotizante” (FÈBVRE, 1995). Como ferramenta metodológica, utilizo uma abordagem autoetnográfica, inspirada pela proposição de elaboração de cartografias radicais (BHAGAT e MOGEL, 2009).

Referências

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Publicado
2018-08-15
Seção
Pesquisa em Dança no Brasil: Processos e Investigações