Por uma Pesquisa sem Objeto

  • Tiago Moreira Fortes Universidade Federal do Ceará

Resumo

Este artigo visa problematizar a noção de objeto de pesquisa no contexto da pesquisa acadêmica em artes. Muito se fala hoje sobre uma necessária autonomia do método de pesquisa em artes, que não deve ser o mesmo que de outras áreas. Porém, continuamos pensando e discutindo em termos de hipóteses, de recorte e de objeto de pesquisa, valorizando a busca por um objeto claro e bem delimitado para que a pesquisa possa se dar de modo eficiente, como se o valor de uma pesquisa dependesse da possibilidade de medir e mensurar a natureza, dada em sua objetidade. Portanto, penso podermos afirmar sobre a pesquisa acadêmica em artes cênicas o mesmo que Heidegger afirma sobre a física: “Nenhuma física tem condições de falar da física, como física. Todas as sentenças da física falam sempre a partir da física. Em si mesma, nenhuma física pode vir a ser objeto de uma pesquisa física” A questão fundamental é esse pressuposto a partir do qual se acredita que devemos partir para podermos pesquisar o que quer que seja. Penso que enquanto continuarmos a considerar a busca por um objeto como ponto de partida para uma pesquisa em teatro, estaremos ainda abaixo das reais possibilidades de pensarmos o teatro, assim como de pensarmos o real, pois estaremos sempre pensando o teatro, assim como o real, em sua objetidade processável. E com isso todo real se transforma, já de antemão, numa variedade de objetos para o asseguramento processador das pesquisas acadêmicas.

Referências

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GIL, José. A Imagem-Nua e as Pequenas Percepções: estética e metafenomenologia. Portugal : Relógio d’água, 1996.

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SCHECHNER, Richard. A Estética do Rasa. IN: Performance e Antropologia de Richard Schechner. Tradução Augusto Rodrigues da Silva Junior. Rio de Janeiro : Manaud X, 2012.

Publicado
2018-08-15
Seção
Territórios e Fronteiras da Cena