Por uma poética política: a presença e o ankoku butoh

  • B. S. Carbogim Universidade Federal de Ouro Preto
  • Éden Peretta Universidade Federal de Ouro Preto

Resumo

Este trabalho – componente do grupo de pesquisa (CNPq) HÍBRIDA- Poéticas híbridas da cena contemporânea – possui como horizonte teórico o estudo da presença na arte e o entendimento da dialética político-artística como elemento central para a construção da presença no trabalho do dançarino japonês Tatsumi Hijikata. Para tanto, foi necessário delimitar um campo de estudos que serviu como base para os pilares principais a serem relatados a seguir. Trata-se da reflexão acerca da biopolítica, conceito-chave na pesquisa do filósofo Michel Foucault. A biopolítica encontra estratégias – estruturadas pelas tentativas de homogeneizar as existências individuais – e assume um determinado modelo de ser e existir, o qual atinge grandes proporções na vida do indivíduo. Através de inúmeras estratégias de convencimento e condicionamento, os indivíduos assumem esse ideal, levando isso a um determinado ponto de alienação em que começam a acreditar que se não se enquadrarem no modelo imposto, não serão bem sucedidos ou algo semelhante. Deste modo, é possível perceber que, perante a sociedade, o indivíduo cria um corpo socialmente aceito, um corpo apresentável, um molde. Esse seria o seu “corpo cotidiano”, ou “corpo social”. Com esse embasamento solidificado pudemos contextualizar como o corpo se constrói hoje e em que perspectiva influencia o trabalho do artista. Partimos desse corpo socialmente aceito – construído pela biopolítica, o qual é transmissor e receptor de poder ao mesmo tempo – para ir ao encontro à sua dissolução, pois é nessa prática que está inserido o trabalho de Tatsumi Hijikata e seu ankoku butoh. Na dança butoh de Hijikata pode-se encontrar não só um corpo fora dos moldes sociais, mas um corpo que possui em seu processo de construção um forte ativismo para ir contra esse “corpo social” (shintai, em japonês). Neste sentido, no contexto da “dança das trevas” surge um projeto político artístico aliado a uma potente presença, sobre a qual buscamos investigar. Não poderíamos, porém, compreender como essa presença cênica se dá sem entendermos o que é presença. Portanto, recorre-se à reflexão do pensador alemão Hans Ulrich Gumbrecht, o qual problematiza a “produção de presença” em uma sociedade obstinada pelo entendimento somente pela razão. Para o autor presença é quando algo se efetiva primeiramente no corpo e não necessariamente busca uma relação de sentido. Gumbrecht acredita que no cotidiano e na cultura, a presença se dê em momentos efêmeros; são instantes em que se consegue distanciar do sentido e relacionar-se com o mundo enquanto “efeitos de presença”. Logo, o diálogo entre as propostas apresentadas convergiram para o entendimento dessa dialética político-artística em conjunto com a “produção de presença” como uma forma de pensar a construção da presença cênica do artista e sua percepção da sociedade, ou seja, sua poética corpórea enquanto dimensão política da presença.

Referências

FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

__________. História da Sexualidade I: A vontade de saber. Trad.: Maria Thereza da Costa Albuquerque e J.A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.

GUMBRECHT, H. U. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Trad.: Ana Isabel Soares. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2010.

PAREYSON, L. Os problemas da estética. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

PELBART, P. P. Biopolítica. Sala Preta 7: revista do Depto. de Artes Cênicas/ECA-USP, São Paulo, n.7, 2007.

___________. Exclusão e biopotência no coração do Império, 2006. Disponível em: <http://www.cedest.info/Peter.pdf>. Acessado em 10 de out. 2013.

PERETTA, É. O soldado Nu origens da Dança Butô. São Paulo: Perspectiva, 2014 (no prelo).

Publicado
2018-08-15
Seção
Processos de Criação e Expressão Cênicas