A encenação contemporânea frente à herança clássica: caminhos para um realismo sedutor

  • Martha Ribeiro Universidade Federal Fluminense

Resumo

Se uma das grandes ilusões modernas foi apresentar o teatro sem o teatro, em
sua autonomia e emancipação, o que se seguiu, com o pós-moderno, foi o
mergulho em todo tipo de hibridações, mestiçagem e simulacros, instituindo o
que talvez seja a palavra de ordem destes nossos tempos: a embriaguez. Este
estado de forma alguma significa um retorno ao “teatro da representação”, de
ilusão e de identificação, ao contrário, significa a exata ruína deste sistema. O
que se segue com a reviravolta pós-moderna, e esta é a nossa hipótese, é o
estabelecimento, na arte, de um tipo diferente de procura, que não se trata
mais de produzir ou fabricar, de atribuir à arte uma tekhne, mas justamente
desviá-la deste sentido de produção - de imposição de uma forma a uma
matéria passiva -, para destiná-la ao jogo da sedução. O retorno do real, ou da
referência, na cena contemporânea corresponde a essa ideia de jogo, um tipo
de realismo mais “afetivo” que denominamos realismo sedutor. A cena
contemporânea não nega o real, mas também não é seu contrário, ela o coloca
em jogo.

Referências

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Publicado
2018-08-26
Seção
Dramaturgia, Tradição e Contemporaneidade