Os processos performáticos de Luís Otávio Barata e sua política de criação na cena contemporânea de Belém

  • Michele Campos de Miranda Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Resumo

Este trabalho faz parte da pesquisa de Mestrado sobre o artista paraense Luís Otávio Barata. Dramaturgo, diretor, cenógrafo, figurinista, jornalista e artista plástico, que trabalhou em Belém durante três décadas, 1970 a 90. Fundador do grupo de Teatro Experimental Cena Aberta no Pará. Analiso neste artigo a performance política e experimental em sua obra, que rompia com o tradicionalismo cultural estático no contexto de Belém, à luz de autores como Bakhtin, Artaud, Salles, Schechner e Lyra, dentre outros; além de aspectos como a mistura de atores e não-atores na cena como forma intencional de experimentar a partir de histórias e narrativas de vida – a “autoperformance” de Ligiéro (1989) – de travestis, veados, cafetões, ladrões e putas, que provocavam um choque nos padrões e comportamentos considerados morais. Sua cena estabelece princípios éticos e estéticos da homossexualidade e seus preconceitos associada à questão étnica e racial, numa colagem erótica e pornográfica aliada a textos e imagens sacros que, derrepente, explodiam num batuque ao vivo. Luís Otávio foi o precursor de uma cena performativa no Pará que misturava vários elementos da cultura africana e indígena, com uma colagem de textos de vários autores contemporâneos misturados a sua fala questionadora e política, colocando em cena uma experimentação coletiva, compondo um coro simbólico, um corpo único e simbólico na cena. Considerado polêmico e radical em tudo o que fazia, Barata teve várias de suas obras censuradas, entre elas a importante trilogia que analiso neste artigo: “Genet – o palhaço de Deus” (1988), “Posição pela carne” (1989) e “Em nome do amor” (1990). Sua importância para a cidade de Belém é enorme, e não figura em nenhum documento existente sobre a cena contemporânea, nem no Pará. A cidade colocou sua obra na margem devido sua fala protestadora e a revelação do corpo dos atores em performance não se  distinguindo do mundo, mas estava misturada aos animais e à natureza, era parte da terra, uma cena orgânica e carnal, grotesca, com os corpos despidos e suados. Essa obscenidade na cena causava um desarranjo do sistema social, perturbando os princípios e os códigos cívicos, que na maioria das vezes acabava sendo censurada ou protestada. Lutando contra uma sociedade que sempre vestiu os homens, rechaça o prazer carnal, ignora os homossexuais e sua forma de viver, Barata vem despindo seu pensamento, através dos corpos nus, que falam e reagem por eles mesmos.

Referências

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Espetáculos de Teatro:

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Reportagens de telejornal:

JORNAL LIBERAL. Polêmica no Teatro Waldemar Henrique. Belém. 23 fev. 2001.

Publicado
2018-08-30