Questões de tradução do livro O corpo poético de Jacques Lecoq: ganhos e perdas

  • Cláudia Müller Sachs Universidade do Estado de Santa Catarina
  • Edélcio Mostaço Universidade do Estado de Santa Catarina

Resumo

O artigo é um estudo crítico sobre a tradução de alguns dos termos-chave do
livro “Le corps poétique” (1997) de Jacques Lecoq lançado somente em 2010
em português brasileiro, um ganho quanto ao acesso que ele propicia a esse
conhecimento pouco difundido no Brasil. Entretanto, destaca-se os termos
“jeu e rejeu”, oriundos da antropologia de Marcel Jousse que estão
relacionados ao seu conceito de mimismo, que se refere à tendência do
indivíduo de absorver aquilo que o circunda com todo seu corpo e mente,
para vir a expressá-lo quando se apresentar uma situação propícia, que ele
chamava “rejeu”. A opção do tradutor pelas palavras “interpretar e
reinterpretar” modifica bastante o sentido do que Lecoq propunha. Jogo e
“rejogo” são noções fundamentais que embasam a relação com a mímica em
sua pedagogia, que parte da observação do cotidiano e da natureza em
busca da dinâmica interna do sentido e não da imitação da forma como
bases para o movimento do ator. Esses termos estão relacionados à
recuperação do instinto infantil, à disponibilidade em relação à expressão do
corpo em movimento e ao prazer, antes, justamente, de passar por qualquer
julgamento ou interpretação.

Referências

FROMONT, Marie-Françoise. El mimetismo en el nino: la antropología de

Marcel Jousse y la pedagogia. Barcelona: Editorial Herder, 1981.

HOUAISS, Antonio e Villar, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua

portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

LECOQ, Jacques. Le corps poétique. Un enseigment de la créacion théâtrale.

Paris: Actes Sud-Papiers/ANRT, 1997.

____ . O corpo poético. Uma pedagogia da criação teatral. São Paulo:

Ed.Senac, 2010.

JOUSSE, Marcel. L’anthropologie du geste. Paris: Gallimard, 1974.

Seção
Processos de Criação e Expressão Cênicas