O Espelho Côncavo na Criação do Esperpento: imagens grotescas e dissonâncias

  • Milena Flick Universidade Federal da Bahia
  • Hebe Alves Universidade Federal da Bahia

Resumo

O trabalho discute a poética dos esperpentos criada pelo dramaturgo espanhol
Ramón del Valle-Inclán (1866-1936) e suas ressonâncias em processos de
criação cênicas contemporâneos, a partir da metáfora dos espelhos côncavos. A
poética foi apresentada pelo personagem Max Estrela, poeta cego de Luzes da
Boêmia (1920), durante a cena XII, na qual defende que as deformidades
características dos esperpentos são resultado das imagens dos heróis clássicos
refletidos num espelho côncavo. Por suas características de refletividade, esse
espelho tornou-se um instrumento para a deformação dos parâmetros clássicos
definidores da ‘realidade ideal’ numa poética que, de forma histórica e
contextualizada, desenvolve em suas proposições uma forte crítica política e
social acerca de seu tempo. Assim, circunstâncias e personagens históricos são
rememorados e submetidos ao confronto com esse espelho que, ao produzir
imagens grotescas, distorções, dissonâncias e mutações, resulta no esperpento.
Para discutir a atualidade crítica de suas proposições cênicas, o artigo conta
com diálogos dessa poética com processos artísticos contemporâneos, a
exemplo de trabalhos do grupo equatoriano Malayerba.

Referências

BUSETTO, Cássio Gustavo. En la ardiente oscuridad e La Fundación: Antonio Buero Vallejo e a realidade dividida. Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2004.

CALVINO, Ítalo. Visibilidade. In: Seis Propostas para o Próximo Milênio: lições americanas. Trad. Ivo Barroso. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p 97-114.

FERRAZ, Joyce Rodrigues. Estudo Introdutório. In: VALLE-INCLÁN, Ramón M. Luces de Bohemia: Esperpento. Edição Bilíngue. Embajada de Espana en Brasília: Consejería de Educación y Ciência, 2001. Colección Orellana Nº13.

MALDONADO, Consuelo. O Grupo de Teatro Malayerba e a Poética da Diferença: um exercício de liberdade no coletivo. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas, Escola de Teatro / Escola de Dança, Universidade Federal da Bahia, 2010.

MATERNO, Ângela. Palavra, voz e imagem nos teatros de Valère Novarina, Peter Handke e Samuel Beckett. In: WERNEK, Maria Helena (org.). Texto e Imagem: estudos de teatro. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p 121-141.

RUSSO, Mary. O grotesco feminino: risco, excesso e modernidade, trad. para o português de Talita M. Rodrigues. Rio de Janeiro: Editora Rocco LTDA, 2000.

VALLE-INCLÁN, Ramón M. Martes de Carnaval Esperpentos: Las galas del difunto, Los cuernos de don Friolera, La hija del capitán. Madrid: Colección Austral, Espasa Calpe, 1989.

VICENTE, Alonso Zamora. La Realidad Esperpéntica (Aproximación a “Luces de Bohemia”). Madrid: Editorial Gredos S. A, Segunda Edição Ampliada, 1974.

Seção
Processos de Criação e Expressão Cênicas