Laboratório, imersão e improvisação na criação audiovisual contemporânea: novas politicas de criação

  • Walmeri Ribeiro

Resumo

Partindo do pensamento da teórica alemã Erika-Fischer-Lichte (2008) sobre o que nomeia como“performative turn”,  e dos apontamentos acerca do “Teatro Pós-Dramático” de Lehmann, este artigo visa refletir sobre novas políticas de criação que vêm, já há algum tempo, sendo propostas por alguns “diretores/encenadores”, como fundamentais para a criação audiovisual1. Para o desenvolvimento deste texto, analisaremos os processos de criação de dois “diretores/encenadores”, o brasileiro Luiz Fernando Carvalho e  o inglês Mike Leigh. Ao proporem como ponto principal de seus processos criativos um laboratório, no qual, atores, equipe técnica e direção,  a partir de um trabalho de imersão e improvisação, como experiência investigativa, constroem a obra , Leigh e Carvalho, assumem o papel não mais de diretores, mas de encenadores, propondo, dentro da singularidade estética de cada projeto, um mergulho em um processo criativo que “se torna mais presença do que representação”, (Lehmann, 2007:143), numa experiência partilhada, que se desenvolve de forma colaborativa. Portanto, se para Mike Leigh, é imprescindivel não se trabalhar com um roteiro ou script, mas ir criando e internalizando ações, diálogos e marcações,  que estão em constante movimento ao serem permeadas pelas ações cotidianas dos atores, equipe e encenador, Luiz Fernando Carvalho diz precisar de um “acontecimento” para ser mediado pelas lentes da câmera. Esse “acontecimento” se dá no dia-a-dia do trabalho, na mobilidade da criação, nos encontros, nos estímulos perceptivos presentes nesse espaço de criação no qual estão mergulhados. Assim, ao estabelecer as conexões entre os dois processos criativos, ressaltando os pontos de intersecção,  busca-se  refletir sobre essas novas politícas de criação, que surgem na contemporaneidade, para a construção da obra audiovisual.

Referências

CARVALHO, Luiz Fernando. Entrevista concedida a autora deste texto, junho de 2009.

COHEN, Renato. Performance como Linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1997.

LEHMANN, Hans-Thies. Teatro Pós-Dramático. São Paulo: Cosac Naify, 2007

LEIGH, Mike. Entrevista concedida ao Jornal Estado de São Paulo, março de 2009. Disponível

no endereço: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090327/not_imp345542,0.php

LICHTE, Erika-Fischer. The Transformative Power of Performance. New York: Routledge, 2008.

Seção
Processos de Criação e Expressão Cênicas