Revisitando o doente imaginário de Molière: tradução, carnavalização e sátira no universo amazônico

  • Adriana Delgado Santelli

Resumo

Com o presente trabalho pretendemos analisar a tradução da obra O doente
imaginário de Molière, realizada pelos docentes da Universidade Federal do Acre - Humberto de Freitas Espeleta e por mim (Adriana D. Santelli). Essa tradução centrou-se na ênfase à recepção da peça francesa no universo amazônico, isto é, procurou-se apontar possibilidades de uma tradução que estabelecesse um elo dialógico entre duas culturas: a francesa do século XVII e a amazônica contemporânea. Pretendemos estudar o desafio de fazer desse texto teatral o fio condutor para o diálogo entre culturas aparentemente diversas, abrindo, assim, um diálogo intercultural/transcultural e revisitando a formação identitária do local onde nos encontramos, sem desconsiderar o contexto de criação original (Francês). Discutiremos a idéia da tradução transcultural, que implica em falar de cultura, identidade, alteridade e tradição. A tradução envolve diferentes maneiras de manifestação da alteridade, cria-se uma via de mão
dupla entre as culturas, uma a negociação permanente entre a identificação e o estranhamento, cuja necessidade de construção apaga a hierarquia entre as culturas, não havendo privilégios e sim uma negociação na recepção. Esse processo só se concluirá e se efetivará na encenação (em curso), a partir do diálogo entre os gestos corporais e os demais signos que o processo espetacular oferece. No contemporâneo, as linguagens perdem suas fronteiras, possibilitando esse tipo de recepção “negociada”. Nesse contexto, novas forças de criação fragmentárias, díspares, irregulares se confrontam, se afirmam e se matizam ou não, dentro da complexa
estrutura da pós-modernidade. Por isso, as perspectivas para a interpretação do objeto artístico são amplas, bem como seu processo de criação.

Referências

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CANCLINI, N. G. Diferentes, desiguais e desconectados – mapas da interculturalidade. Tradução Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2005.

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