Um portal de história do teatro como tarefa criativa, artística e coletiva

  • Alexandre Mate

Resumo

Fayga Ostrower (1984) defende a tese de que o homem cria, não porque goste, mas
porque precisa. O ato de criação – que se caracteriza por processo de cotejo e de seleção entre as objetividades e subjetividades da ideia sensível e do repertório mediado ou não pela experiência pessoal – materializa-se pela produção da obra artística como objeto estético e comunicacional. Maurice Halbwach (1990), investigando os processos por meios dos quais a dialética da memória se estabelece, afirma que toda memória é coletiva, histórica e social. Deveria aliar-se em importância, à percepção da necessidade do criar, a do conhecimento histórico. Entretanto – por certa lógica, esquadrinhante e classistamente ideológica – a totalidade das experiências, sobretudo populares e tantas outras amparadas em pressupostos brechtianos, não têm guarda documental. Nesse sentido, do mesmo modo que todos os processos artísticos são criativos, os históricos também precisariam sê-lo. Bertolt Brecht, por meio das Histórias do Sr. Keuner, no texto “Originalidade”, afirma que certo filósofo chinês, na vida adulta, escreveu um livro no qual nove décimos eram citações. Por falta de espírito e por certa apologia ao ineditismo, entre nós, afirma BB, tal façanha seria impossível. Tais apologistas, supostamente ao apresentar “as suas ideias”: “Desconhecem edifícios maiores que aqueles que um indivíduo é capaz de construir”.
Motivado por tais considerações e também pela carência de materiais documentais,
coordeno no Instituto de Artes da Unesp, campus da Barra Funda, um processo de construção de Portal de História do Teatro, abrigando aspectos do teatro popular (sobretudo de rua) e de experiências ligadas ao teatro latino-americano. O “portal-edifício” como fonte de pesquisa, e não apenas para professores e estudantes, é obra criativa, coletiva e artística.

Referências

BRECHT, Bertolt. Histórias do sr. Keuner. São Paulo: Ed. 34, 2006.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.

OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 1984.