Concepções de corpos dançantes na coreografia contemporânea na perspectiva de bailarinos-criadores

  • Mônica Dantas

Resumo

No campo da produção acadêmica em dança, o corpo é um dos temas mais abordados. O corpo dançante é descrito como um corpo treinado, modelado, construído (Foster, 1997), um corpo fenomenológico e sensível (Fraleigh, 1987), um corpo virtual e paradoxal (Gil, 2004), um sistema aberto de troca de informações (Katz, 1994), um rizoma plástico, sensorial, motor, pulsional e simbólico (Bernard, 1990), um laboratório da percepção (Souquet, 2005). Mas o que pensam e dizem os bailarinos sobre seus corpos dançantes? Com o intuito de ancorar as reflexões teóricas sobre o corpo dançante na prática coreográfica contemporânea, esta comunicação busca identificar e analisar concepções de corpo vividas, elaboradas e veiculadas nas obras Aquilo de que somos feitos (Lia Rodrigues Companhia de Danças) e Marché aux puces, nous sommes usagés e pas chers (dona orpheline danse). Para tanto, realizou-se um estudo dos processos de realização das duas coreografias, através da utilização da etnografia como método de pesquisa, tendo como instrumentos de coleta de informações a observação participante e a entrevista. A presença do corpo dançante como corpo treinado, heterogêneo, autônomo, íntimo, energético, engajado, vulnerável e amante assinala as correspondências entre as obras coreográficas e os projetos de corpo dançante que essas obras acabam por suscitar. Ela exprime igualmente as relações de continuidade entre a dança e vida, revelando que os bailarinos integram a sua prática artística as experiências mais ordinárias e mais íntimas, convergindo-as ao projeto coreográfico do qual fazem parte.

Referências

BERNARD, M. Les nouveaux codes corporels de la danse contemporaine. In PIDOUX (org.) La danse, art du 20ème siècle? Lausanne : Payot, 1990, p. 68-76.

FORTIN, S. e TRUDELLE, S. Danseur au travail : j’aim, j’ai mal, beaucoup, passionnément. Cahiers du théâtre-jeu, n. 119, p. 25-32, 2006.

FOSTER, S. L. Dancing Bodies. In DESMOND (org.) Meaning in Motion : New Cultural Studies of Dance. Durham : Duke University Press, 1997, p. 235-257.

FRALEIGH, S. H. Dance and Lived Body. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 1987.

GIL, J. Movimento total: o corpo e a dança. São Paulo: Iluminuras, 2004.

KATZ, H. A dança é o pensamento do corpo. 1994. 191 f. Tese (Doutorado). Pontíficia Universidade Católica de São Paulo.

LESAGE, B. À corps se crée/accord secret; de la construction du corps en danse. In Histoires de corps, à propos de la formation du danseur. Paris: Cité de la musique, 1998, p. 61-83.

LEDUC, D. Étude phénoménologique de l’état d’authentitcité dans l’acte d’interprétation en danse contemporaine. 2006. 300 f. Tese (Doutorado). Université du Québec à Montréal.

MERLEAU-PONTY, M. Phénoménologie de la perception. Paris: Gallimard, 1945.

SOUQUET, A. Le corps dansant : un laboratoire de la perception. In COUBIN, COURTINE, e VIGARELLO (org.). Histoire du corps. Paris: Seuil, 2005, p. 394-415.

Seção
Pesquisa em Dança no Brasil: Processos e Investigações