Significados simbólicos pelas danças dos blocos afros de Salvador

  • Nadir Nóbrega Oliveira

Resumo

Para realizar esta pesquisa, faço uso de várias referências envolvendo corpo, dança,
ancestralidade e memória desenvolvidas nos blocos afros de Salvador: Ilê Aiyê, Olodum, Malê Debalê e Bankoma, destacando aspectos das culturas e identidades brasileira nestas criações.
Para tanto, inspiro-me nos significados simbólicos desses blocos, nos quais suas
propostas artísticas são diferenciadas e consequentemente os corpos também o são. Corpos que provocam algumas indagações, como: Que formações existem nestes corpos, para serem tratados enquanto dança? De que corporalidade estou falando? Como esses corpos são construídos? Como essas obras foram e são construídas?
Nesta pesquisa apresentarei paradigmas performativos significantes nos estudos da dança estabelecidos por estas associações carnavalescas, nas quais os seus integrantes dançam para expressarem seus sentimentos, suas ansiedades e valores culturais. Como, por exemplo, as cores da indumentária; movimentos do corpo que se entrelaçam entre movimentos articulados e, ao mesmo tempo, são totais; e a polirritmia das músicas, dentre outros.
Partindo dos estudos do corpo, destaco a atualidade do estudo de MAUSS, sobre as
técnicas corporais, sugerindo que os corpos são montados de maneira física, psíquica e,
socialmente, e que a educação e a imitação prestigiosa são determinantes nessa montagem cultural. MAUSS (1974) considera a técnica corporal como “um ato tradicional eficaz”, que pode ser transmitido de geração a geração.
Mauss, nas suas pesquisas apresenta-nos as mais diversas ações corporais obviamente
influenciadas pelas suas culturas. Tendo este autor como uma das minhas referencias neste estudo, vejo em Salvador, minha terra natal, em pleno século XXI, ainda ficamos de pé com as “mãos nas cadeiras” é muito típico de nós mulheres negras, como também ainda é possível se “comer de mão” (sem os talheres), nos quais as nossas avós e mães nos terreiros e quintais fazem os bolinhos de feijão, molhá-los no caldinho e carinhosamente são colocados nas bocas das crianças.
Com estes dois simples exemplos de técnicas corporais registro o meu orgulho desta
herança africana. Este jeito afro-baiano de ser. Enquanto profissional da dança com atuações diretas nestes blocos, pude constatar que as variações técnicas corporais comuns às religiosidades de matriz africanas desenvolvidas nestes espaços com saberes tão particulares, variavam conforme as suas nações de origem. E estas nações ou culturas foram estabelecidas pela tradição oral, nas quais seus rituais foram e continuam sendo transmitidos de geração a geração, sofrendo pequenas alterações, mas que continuam construindo ethos para a diversidade cultural baiana, e é através desta oralidade que crio e debruço meu olhar.

Referências

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Seção
Pesquisa em Dança no Brasil: Processos e Investigações