Identidade zelig da dança contemporânea: outros em mim

  • Nirvana Marinho

Resumo

No estado de arte do corpo contemporâneo, uma hipótese torna-se possível: a dança
contemporânea pode ser entendida como uma mixagem de identidades? Sempre idealizada em um corpo, com nome e sobrenome, com alcunha e endereço certo, a dança se apóia tão obviamente no corpo que a produz, que se confunde com ele. Normalmente reconhecemos a dança deste ou daquele artista, atribuindo ao sujeito certa singularidade. No entanto, em tempos de simultaneidade, sincronismo, globalização e de multidões indistintas, o conceito de identidade vem sendo repensado (BAUMAN, 2005). Para investigar uma nova estratégia de existência, emprestamos uma metáfora do cineasta Woody Allen em seu filme “Zelig” (1983) a fim de corporificar esta metáfora na dança produzida nas últimas décadas. O corpo e sua identidade vem sendo misturado, contaminado e confundido com uma imensa avalanche de possibilidades que o corpo organiza ao longo de sua história – mestres, técnicas, pessoas, leituras, experiências - agora fazendo visível suas influências e decisões de quais deseja transparecer em sua dança. Projetos de troca de coreografias (As obras dentro da obra (2009), Ricardo Marinelli e Elisabeth Finger), pesquisa de mixagem de tipos coreográficos (Confluir (2007), Thembi Rosa) e outros exemplos trazem ao centro da discussão a identidade mixada ou “zelig” do corpo contemporâneo em dança. Diferente da equivocada impressão de que a dança contemporânea abarca tudo ou pode tudo, o presente artigo transforma a patologia “zelig” do personagem da película para uma realidade desejada por muitos artistas. Como organizar um eu feito de muitos eus? Como estetizar sua realidade misturada com muitas outras, algumas delas inconscientes? Alguns coreógrafos brasileiros comentados tornam viável um revisita ao conceito de identidade frente a diversos estímulos que o artista da dança sofre hoje em sua formação e, sobretudo, em seu percurso artístico.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. (2001). Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

_____. (2005). Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

GREINER, Christine. (2007). “Estratégias para pensar (e reinventar) as relações entre corpo e poder“. Revista Sala Preta. V. 7.

FABBRI, Veronique. (2001). Danse et Politique. Paris: Centre National de la Danse.

MASSENO, André. (2008). As assinaturas em dança e seus deslocamentos autorais em Tombé. Rio de Janeiro (UERJ): Revista Polêm!ica, Caderno Imagem.

FOUCAULT, Michel. (2002). O que é um autor? Lisboa: Passagens.

MARINHO, Nirvana. (2006). Copyleft – alguns direitos reservados: autoria em dança. Anais do IV Congresso de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas, ABRACE.

_____. (2009). Desejo de ser outro: precária aproximação. Caderno do projeto “As obras dentro da obra”. Em prelo.

SANTAELLA, Lúcia. (1994). Estética – de Platão a Peirce. São Paulo: Experimento.

Seção
Pesquisa em Dança no Brasil: Processos e Investigações