Dança e políticas de cultura na pós-modernidade

  • Thaís Gonçalves Rodrigues da Silva

Resumo

O balé clássico tem sido uma das estéticas adotadas em projetos sociais em diversas
partes do Brasil. Em Paracuru, vila de pescadores do litoral Oeste do Ceará, a 90 quilômetros de Fortaleza, o bailarino Flávio Sampaio implantou, em 2003, uma escola de formação para crianças e adolescentes que nunca tiveram contato com esta técnica. Até então, os moradores só apreciavam o forró chamado comercial, pois nem as danças tradicionais fazem parte do repertório local. Depois de fazer carreira nacional e internacional, o bailarino voltava a morar na sua cidade natal, após ser professor do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville, no ano de 2002. Chegou com o desejo de aplicar o balé de uma forma inusitada e bem aceita pela comunidade. Como desafio metodológico: formar bailarinos que dancem “para o futuro” e não
“para o passado”, para a tradição. Em vez de investir reprodução de repertórios do século XIX, em que opera a lógica do sujeito centrado moderno e iluminista, o professor apropria-se dessa técnica para preparar o corpo e, assim, estimular os alunos a avançarem em direção à criação de seus próprios repertórios e estilos de dança na cena contemporânea. Para discutir essa mudança de foco, um pergunta: como o balé pode responder aos questionamentos e anseios das populações atuas, em especial às de baixa renda no Brasil, num mundo em que o sujeito e a identidade estão em crise? Stuart Hall entende que enfrentamos um descentramento do indivíduo de seu lugar social e cultural e de si. Já Gilles Deleuze e Félix Guattari colocam em questão a própria idéia de sujeito e subjetivação e seus modos de controle que operam na sociedade contemporânea, propondo a vida como uma obra de arte, tal como Nietzsche, para quem a arte não é separada da vida. Considerando a estreita relação entre arte e poder ao longo da história, entendo que é preciso um olhar mais atento para o modo como a dança tem sido compreendida no âmbito da cultura e, por consequência, na esfera dos projetos sociais.

Referências

ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

CORAZZA, Sandra Mara. Artistagens – filosofia da diferença e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Editora 34, 1992.

GOMES, Sandra Lúcia. A aranha baba e tece a teia ao mesmo tempo. In: MOMMENSOHN, Maria e PETRELLA, Paulo (Orgs). Reflexões sobre Laban, o mestre do movimento. São Paulo: Summus, 2006.

GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: Editora 34, 1992.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

MARQUES, Isabel. Ensino de dança hoje: textos e contextos. São Paulo: Cortez, 2001.

SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

Seção
Pesquisa em Dança no Brasil: Processos e Investigações