Movimento nação: encontros de vida em circularidades e espiralidades

  • Margarete de Souza Conrado
  • Inaicyra Falcão dos Santos

Resumo

Esta comunicação vai tratar o corpo como objeto de arte que se materializa na
estética dialética e perceptiva dos fluxos de imagens, sons, gestos, cores,
intuições e emoções, captadas e configuradas na dança e no batuque do
Maracatu Nação em Pernambuco, Brasil, uma manifestação cultural que
representa simbolicamente a coroação de reis do Congo. A questão está em
propor um olhar diferenciado da dança do maracatu considerando a
complexidade de sua configuração. O estudo busca compreender o sentido dos
giros realizados pela dama do paço e baianas no momento da virada do baque
no maracatu nação. O pressuposto considera a circularidade e a espiralidade
como sentidos fundantes das danças de matrizes africanas (ASANTE, 1996)
que materializam no corpo do brincante narrativas de ancestralidade africana
considerando-as como arte política e educação pluricultural para a cidadania,
interligando sistemas e subsistemas, indicando pistas de ancestralidade como
“Movimento Nação”. Movimento que surge com foco na figura da Dama do
Paço e da Calunga, elementos simbólicos carregados da força e da dinâmica
que se amplia e se expande para outras dimensões. O Movimento Nação será
abordado a partir da análise da técnica corporal dos giros na virada do baque,
circunscrito por: situações da vida em comum, filosofia da ancestralidade,
princípios educativos de ética e ações pedagógicas de encantamento, além
das características das danças africanas sistematizadas por Asante (1996). Os
aspectos metodológicos apontam para uma pesquisa de inspiração etnográfica
que analisa e descreve cenas a partir da interpretação do discurso (narrativa
dos brincantes do Maracatu Leão Coroado), da observação do corpo que
dança (dança / batuque), das relações espaço-temporais com a paisagem
urbana e das relações espaço-temporais com a memória. Para tanto, faz-se
necessário compreender o que é o baque virado e como se constitui o
momento da virada do baque no maracatu nação. O estudo se justifica pela
relevância em construir um referencial teórico afro-brasileiro, extraindo do
campo empírico as bases epistemológicas para reflexão e compreensão do
corpo afro-descendente como um sistema que opera conhecimentos e
revigora, no cortejo, a luta de significados.

Referências

ASANTE, Kariamu Welsh (1996). African Culture – The Rhythms of Unity.

Edited by Molefe Kete Asante and Kariamu Welsh Asante.

CONRADO, Margarete de Souza. Maracatu Nação: códigos barrocos no corpo que dança. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-graduação em Dança - Escola de Dança da UFBA, 2009.

GEERTZ, Clifford. Interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.

GREINER, Christine. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. São Paulo: Annablume, 2005.

OLIVEIRA, Eduardo David. Filosofia da ancestralidade: Corpo e Mito na

Filosofia da Educação Brasileira. Curitiba: Editora Gráfica Popular, 2007.

SANTOS, Inaicyra Falcão dos. Corpo e ancestralidade: uma proposta

pluricultural de dança-arte-educação. 2 ed. São Paulo: Terceira Margem, 2006.

SANTOS, Juana Elbein dos. Os Nagô e a morte: Pade, Asèsè e o Culto Egun na Bahia; traduzido pela Universidade Federal da Bahia, 13. ed. – Petrópolis, Vozes, 2008.

Seção
Pesquisa em Dança no Brasil: Processos e Investigações