Dança e ensino na contemporaneidade: desafios ao artista-docente

  • Thaís Gonçalves

Resumo

As relações entre dança e educação, no atual contexto de expansão das
graduações em Dança em universidades brasileiras, apontam possibilidades de
se intensificar uma vivência artística nas escolas e de potencializar a figura do
artista-docente. Até o ano 2000 eram sete as universidades com cursos
superiores em Dança. Na última década já são 25. O traço que persiste em boa
parte das iniciativas é o da implantação de Licenciaturas em instituições
públicas. Que diretriz o Ministério da Educação parece perseguir? Dança e
universidade: que relações artísticas e pedagógicas são evidenciadas? Quem
dança sabe ensinar? Quem ensina, dança? Com que noções de dança e de
educação os licenciados em Dança vão para a sala de aula? Como dançam
com seus alunos? Diferente da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1971, que
apostava no profissional polivalente para o ensino de Educação Artística, o
licenciado em Dança, regido pela LDB de 1996, é um profissional especialista.
Uma mudança que provoca um redimensionamento de conteúdos e
metodologias, seja no ensino formal (nas escolas) ou ainda informal (em
projetos como Segundo Tempo, ONGs, projetos sociais). Para pensar dança e
educação sob uma perspectiva histórica e em consonância com desafios da
contemporaneidade, essa articulação de pensamento se faz com o educador
gaúcho Tomaz Tadeu Silva e a artista e educadora Isabel Marques. O objetivo
é apontar modificações relativas aos modos de ensinar, para analisar que
dança é possível afirmar em situações pedagógicas. São abordagens que vão
da educação tradicional, conteudista, em dança, passando pela educação por
meio da dança, com foco nos processos, até o ensino com a dança, no qual os
saberes técnicos são embaralhados e reordenados para darem passagem a
novos saberes, potencializando a criação. Para os pensadores franceses Gilles
Deleuze e Félix Guattari, a arte, em sua potência de criação, é um dos modos
de produção de subjetividade que apontam processos de singularização,
fazendo frente aos processos de modelização de comportamentos. A arte atua,
para eles, mudando a ordem de um pensamento, possibilitando um
reposicionar-se no mundo a partir de relações que se dão cotidianamente a
ampliar os sentidos que se dá à vida. Um modo de pensar próximo ao de Isabel
Marques quando ela propõe a figura do artista-docente como um professor
que, a partir de uma vivência como artista que pesquisa e investiga, partilha
seus saberes com os alunos e utiliza o ambiente escolar como espaço cênico,
no qual docentes e discentes dançam, coreografam, inventam modos de
compor, não havendo fronteiras entre artista e docente, sala de aula e cena,
professor e aluno, entre procedimentos artísticos e pedagógicos

Referências

DELEUZE, Gilles. Conversações, 1972-1990. São Paulo: Ed. 34, 1992.

__________ e GUATTARI, Félix. O que é filosofia? Rio de Janeiro: Ed. 34, 2ª

edição, 1997.

GONÇALVES, Thaís. Dança-mundo: uma composição de corpos, histórias e

processos educacionais. In: Caderno Pedagógico, v. 8, n. 1, pp. 7-22.

Lajeado: Univates, 2011.

MARQUES, Isabel. Dançando na escola. São Paulo: Cortez, 2003b.

__________. Ensino de dança hoje: textos e contextos. São Paulo: Cortez, 2ª

edição, 2001.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade – uma introdução às

teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

Seção
Pesquisa em Dança no Brasil: Processos e Investigações