“E o Sertão virá mar”: Senhora dos Afogados e a “geografia pessoal” da Cia de Teatro Farinha Seca

  • Patrick George Warburton Campbell
  • Eliene Benício Amâncio Costa

Resumo

Ao decorrer deste artigo, recorremos à Fenomenologia do Imaginário
desenvolvido por Gaston Bachelard para realizar uma topoanálise imaginária
da geografia pessoal mapeada pela Cia Teatral Farinha Seca na sua
montagem Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues. Geografia pessoal é
um termo desenvolvido pelo ator Cleilton Silva para descrever a maneira pela
qual a obra da Farinha Seca — grupo teatral radicado na cidade de Euclides da
Cunha no Sertão Baiano — articula um universo onírico e híbrido que foge das
construções regionalistas que tradicionalmente molduram noções hegemônicas
de identidade e realidade no árido interior nordestino. Como veremos, embora
a geografia pessoal permeando a montagem da peça rodriguiana revele o
rastro da violência epistêmica e disciplinar que talhou o Sertão, seu povo e
seus costumes, também aponta para uma riqueza pulsional de sensações e
desejos ocultos, uma paisagem imaginária alternativa cartografada pelos
potentes signos teatrais encarnados pelos jovens atores no palco.

Referências

BACHELARD, Gaston. A Água e os Sonhos: ensaio sobre a imaginação da

matéria. São Paulo, Martins Fontes, 1989.

__________________. A Poética do Espaço. São Paulo, Martins Fontes,

CIA TEATRAL FARINHA SECA. Cia Teatral Farinha Seca: depoimento.

Entrevistador: P. G. W. Campbell. Euclides da Cunha, 2/5/2011.

KRISTEVA, Julia. Powers of Horror: An Essay on Abjection. Nova Iorque,

Columbia University Press, 1982.

RODRIGUES, Nelson. Nossa Senhora dos Afogados: tragédia em três atos

– peça mítica. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2004.