A Historicidade nas Encenações de André Antoine

  • Guilherme Delgado
  • Ângela Leite Lopes

Resumo

Esta comunicação pretende demonstrar as duas concepções de historicidade
presentes na obra do encenador francês André Antoine. Em comum a estas
duas propostas, há a recusa da ideia de “peça bem feita” — um conjunto de
normas pré-estabelecidas, inalteradas independentemente do que estivesse
sendo representado, que se pretendiam imutáveis e, portanto, a-históricas.
Para Antoine, a historicidade era uma dimensão fundamental da encenação.
Em um primeiro momento, isso pode ser percebido na sua fase como diretor do
Théâtre Libre (1887-1894), quando montou diversos textos realistas,
comprometidos com o ideário positivista do fim do século XIX (como os de
Zola, por exemplo). Neste contexto, a arte se aproximava das ciências,
especialmente as humanas, como a psicologia e a sociologia. O palco era um
lugar possível para experimentos, para a verificação de hipóteses sobre o
comportamento individual e social do homem. Nestas peças, os conflitos entre
os personagens carregavam uma dimensão histórica, isto é, a vida presente
era sempre vista como resultado da interação e do conflito entre forças
históricas. Posteriormente, Antoine se tornou diretor do Théâtre Odéon (1906-
1914), com o projeto de apresentar textos clássicos ao público (Shakespeare e
Eurípides, por exemplo). Neste caso, se a historicidade não aparecia da
mesma forma na dramaturgia, as propostas de Antoine foram responsáveis por
dar uma dimensão histórica aos espetáculos. O objetivo era levar cada texto ao
palco da maneira como ele teria sido originalmente apresentado. Assim, os
clássicos eram inseridos em uma dimensão histórica mais ampla. Com isto,
pretende-se demonstrar a profunda conexão entre pensamento histórico e
encenação.

Referências

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