A cidade e a mulher na Belle Époque: o teatro de revista em São João del-Rei

  • Cláudio Guilarduci

Resumo

Entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX, o Brasil
passou por importantes mudanças, transformando-se num país abolicionista,
republicano e capitalista. Diante desse quadro e na busca de padrões
europeizados para ingressar na lista de países civilizados foram impostas
condutas comportamentais de acordo com as diretrizes, principalmente,
francesas. O país buscava se aproximar dos ideais europeus por meio das
mudanças físicas na cidade, aliando o gosto refinado, independentemente se
era compatível com as especificidades do clima tropical, com toda a
materialidade e o imaginário experimentados na Europa. A finalidade desse
sacrifício era participar dos novos tempos. Para isso era necessário eliminar as
marcas do passado que urdiram as tradições e, ao mesmo tempo, mitificar a
civilização francesa para viver o melhor dos tempos, viver a Belle Époque. A
cidade ideal estava pautada na concepção de que para abrir um novo tempo
histórico precisava destruir o antigo, sob a égide do lema positivista ordem e
progresso. A mulher, a partir desse espírito, também conquista importantes
mudanças ao usufruir do espaço público, sendo vistas e desejadas pelos
homens. Cidade e mulher pertencem a uma mesma natureza nesse momento
de transformações. Um novo olhar no cotidiano é descoberto na cidade numa
mistura de fetiche, exibicionismo e voyeurismo. A mulher associada à cidade
evoca uma imagem de prazer, desejo e sedução: corpos, olhos e espaço
urbano mantêm uma relação na conquista dos novos tempos. Em São João
del-Rei também é possível perceber mudanças no cotidiano da cidade, por isso
essa comunicação objetiva discutir a representação social do espaço urbano e
da mulher nas peças de teatro de revista escritas e encenadas na cidade sãojoanense
entre os anos de 1893 a 1918. Desse período foram analisadas cinco
peças: A mudança da capital (1893), de Modesto de Paiva; Terra Ideal (1915),
de Tancredo Braga; O Gramophone (1916), de Alberto Gomes; Número Um
(1917), de Durval Lacerda e, por fim, O meu boi fugiu (1918), dos autores
Oscar Gambôa e Dr. Ribeiro da Silva. Para essa análise, além da concepção
de história de Walter Benjamin e do entendimento de que a modernidade é um
periódo histórico da antinatureza, a metodologia utilizada foi a das técnicas de
montagem que o autor elaborou para pensar Paris. É importante frisar que a
mulher é uma das figuras centrais do pensamento benjaminiano para discutir a
cidade. É possível indicar além do caderno Prostituição, Jogo do livro
Passagens outros textos que evocam a figura feminina. Em suas lembranças
de infância relatadas no livro Rua de mão única é com a figura da mulher que
Benjamin toma conhecimento do seu corpo, constitui um saber sobre o Outro e
também sobre a cultura.

Referências

BENJAMIN, W. Origine du drame baroque allemand. Paris: Flamarion, 1975.

___________. Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo:

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.

BUCK-MORSS, S. Dialética do olhar: Walter Benjamin e o projeto das

Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG; Chapecó/SC: Editora Universitária Argos, 2002.

GUIMARÃES, B. Maurício ou os paulistas em S. João d’El-Rei. Rio de

Janeiro: Garnier, 1877.

GUILARDUCI, C. A cidade e o teatro de revista: o edifício da Estrada de

Ferro Oeste de Minas de São João del-Rei. O Percevejo online, UNIRIO, Rio

de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 8, 2009. <http://www.seer.unirio.br/index.php/opercevejoonline >.

PAIVA, M. de. A mudança da capital. São João del-Rei, 1893.

WITTE, B. Por que o moderno envelhece tão rápido? Dossiê Walter

Benjamin. Revista USP, Set. Out. Nov., n. 15, 1992.