O visível e o não-visível no palco beckettiano

  • Luiz Marfuz

Resumo

A relação do teatro de Samuel Beckett com as artes plásticas amplia o exame
de possibilidades da topografia visual da cena e aproxima o artista irlandês da
arte não-figurativa, especialmente da pintura. Beckett afirma que, em muitas de
suas peças, a imagem é a concepção central. Não sem propósito, ele escolhe
o palco italiano para suas encenações; mas, longe de representar
subserviência à tradição teatral ilusionista, Beckett apodera-se dele para
construir espaço único, esculpido por cores, formas, ritmos, movimentos, sons
e silêncios e dar-lhe dupla função: pelo que mostra e pelo que oculta, como se
as personagens estivessem aprisionadas numa pintura da qual não podem
escapar; sair das linhas divisórias da caixa cênica é desaparecer. É nele que
as espacialidades se alojam, confrangendo-se entre dois extremos: o lugarvisível,
— onde as personagens se movimentam ou se imobilizam — e o lugarinvisível,
o off-stage, separado por uma moldura que debrua a cena. No palco
beckettiano, romper a moldura é confrontar o desconhecido, o informe, o nãocriado.
Estas reflexões integram a tese de doutorado do autor: “O teatro de
Beckett: poética da implosão e estratégias de encenação”, PPGAC-UFBA,
2007.

Referências

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Seção
Processos de Criação e Expressão Cênicas