Faça Você Mesmo – Um Agente Compositor Contemporâneo

  • Fabio Salvatti

Resumo

O modo de exercício político “faça você mesmo” (do it yourself – DIY) vem
norteando grande parte do ativismo político desde a segunda metade do século
XX. Nele, a autonomia, a autoexpressão e a auto-organização são valorizadas
em detrimento da representação delegada, pretendendo uma chance de
envolvimento pessoal na transformação do mundo. Este envolvimento sem
mediadores vem construindo redes de colaborações horizontais, distintas das
relações hierárquicas de partidos, sindicatos e outras agremiações políticas.
Considerando-se que uma parcela significativa de coletivos e indivíduos que
fazem parte destas redes propõe ações que se situam em um campo contínuo
e indistinto entre arte e ativismo, pode-se aproximar o conceito de “faça você
mesmo” das práticas criativas da cena contemporânea. O locus do espectador
contemporâneo tem sido desestabilizado em processos artísticos de estética
relacional, nos quais as relações autorais da cena são explodidas e
compartilhadas com o público. Nestes casos, todos os participantes do
processo artístico passam a ser agentes compositores cujas proposições são
determinantes para eventos que perdem o caráter fechado de obras de arte e
ganham o estatuto aberto de vivências artísticas. Esta recontextualização do
“ex-espectador” é manifestamente política, com orientação desierarquizante e
horizontal. Neste aspecto, o “faça você mesmo” surge como modo operador
para o agente compositor da cena contemporânea e pode servir para seu
exame.

Referências

BOURRIAUD, Nicolas. Estética relacional. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

RAUEN, Margie. Do controle da cena à interações alostéricas – o público

como agente compositor in: RAUEN, Margie. (org.) A interatividade, o controle da cena e o público como agente compositor. Salvador: EDUFBA, 2009.

RANCIÈRE, Jacques. The emancipated spectator. Londres / Nova York:

Verso, 2009.

SALVATTI, Fabio. O prank como opção performativa para a rede de

ativismo político contemporâneo. Tese de doutorado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da ECA-USP. São Paulo,

TRAPESE COLLECTIVE. Do it yourself – a handbook for changing the world.

Londres: Pluto, 2007.