Processo Colaborativo e Sujeito Autoral em Dança

  • Sandra Corradini

Resumo

Mais que afirmar qualquer suposto teórico acerca da autoria na dança, este
trabalho indaga o direito de propriedade de ideias configuradas em processos
compositivos em dança, inscritos em contextos colaborativos. Destina-se a
uma breve reflexão teórico-crítica sobre o sujeito autoral no processo
colaborativo em dança, aqui proposto no sentido de contribuir com o atual
debate sobre o tema, cujos estudos ainda se mostram incipientes neste campo
do conhecimento. Reconhece-se a recorrência da temática da contaminação
como plano para o qual converge grande parte dos discursos de artistaspesquisadores
do corpo, que, criadores de suas próprias obras, ficam por
vezes perplexos ante o plágio e à reprodução irreverente de suas ideias
conformadas em produto artístico, quase sempre não referenciadas. Há,
contudo, diversos aspectos que subjazem à prática colaborativa em questão,
que prescindem de maior atenção investigativa, dado que não somente as
ideias migram sem controle entre trabalhos artísticos e contextos distintos,
como também os sujeitos criadores, que, na busca de sobrevivência,
deslocam-se regularmente entre diferentes grupos, coletivos e campos de
atuação, posicionando-se como interlocutores e autores particulares de suas
próprias criações, afirmando ao mesmo tempo que estas, elaboradas em
contextos colaborativos, resultam da autoria compartilhada entre todos. Tal
problemática parece se complexificar quando os processos são interrompidos
em virtude dos conflitos neles engendrados, tornando tanto a prática coletiva
como a obra inexequível. Entende-se que as obras configuradas em contextos
colaborativos resultam do encontro entre diferentes — diferentes sujeitos,
corpos e campos disciplinares, que dialogam, compartilham e negociam ideias,
conhecimentos e saberes diversos, coatuando em zona de transitividade —
lugar de experiência que se instaura a partir de condições favoráveis à
aproximação entre duas ou mais instâncias do conhecimento que apresentem
afinidades conectivas e que se perpetua ao passo da maturação da experiência
relacional configurada neste contexto. A horizontalidade — muitas vezes,
exaltada — nas relações entre os sujeitos criadores que atuam no processo
colaborativo parece ser um desejo de uma realidade a ser alcançada, do
mesmo modo que a autoria compartilhada de uma obra artística elaborada por
meio de processo colaborativo parece não resultar da soma das autorias
particulares de cada um de seus sujeitos criadores. À luz dos estudos de
Foucault acerca do autor, pretende-se compreender estes aspectos que
permeiam os processos colaborativos em dança na atualidade.

Referências

BRITTO, Fabiana. Dultra. Temporalidade em Dança: Parâmetros para uma

História Contemporânea. Belo Horizonte, MG: FID Editorial, 2008.

CAVALLI-SFORZA, Luigi Luca. Genes, Povos e Línguas. São Paulo, SP:

Companhia das Letras, 2003.

CORRADINI, Sandra. Dramaturgia na Dança: Uma Perspectiva Coevolutiva

entre Dança e Teatro. Dissertação (Mestrado em Dança). 149f. Programa de

Pós-Graduação em Dança – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.

DAWKINS, Richard. O Gene Egoísta. São Paulo, SP: Companhia das Letras.

FOUCAULT, Michel. “O que é um Autor?”. In: Ditos e Escritos: Estética –

Literatura e Pintura, Música e Cinema. (vol. III). Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 2001.

< http://fido.rockymedia.net/anthro/foucault _autor.pdf>. Acesso em: 10 mai.