Processos de Criação Compartilhada e Formações Rizomáticas

  • Jan Moura
  • Maria Thereza Azevedo

Resumo

Toda construção teatral é, antes de tudo, uma construção coletiva. Mas alguns
artistas, a partir de determinada época da história do teatro, decidiram que sua
arte deveria ser autônoma e livre de imposições. A criação compartilhada, seja
ela em processos coletivos, colaborativos ou outra terminologia ou variação
que possa existir, dá a arte teatral um caminho mais complexo e rico para a
expressão estética, provocando diversas revisões e mudanças de posturas,
atitudes e paradigmas. Criar em um grupo, companhia ou coletivo pautado pela
horizontalidade na formação estrutural cria condições para que as
subjetividades dos envolvidos encontrem caminhos mais livres e desafiadores
para se expressarem. A autonomia criativa dos artistas determina um ambiente
rizomático formado por vontades, desejos e histórias que se cruzam e se
entrelaçam, formando uma rica e complexa rede estética. De acordo com
Vygotsky, o ser humano se desenvolve na relação com o outro, e processos
horizontais, democráticos possibilitam esse crescimento. O presente artigo
analisa essas formações rizomáticas (Deleuze) estabelecidas em coletivos que
optaram por processos de criação compartilhados. Fazendo uma reflexão
sobre as possibilidades que se abrem e buscando compreender de que forma
essas escolhas influenciam no processo e no resultado da criação, utilizando
para tanto conceitos de Lev Vygotsky, Gilles Deleuze e José da Costa.

Referências

COSTA FILHO, José da. Teatro Contemporâneo no Brasil: criações

partilhadas e presença diferida. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2009.

DELEUZE, Gilles e GUATARRI, Felix. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. Vol. 1. Trad. Aurélio Guerra Neto, Célia Pinto Costa. Rio de Janeiro: Editora 34. 1995

________________. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. Vol. 3. Trad.

Aurélio Guerra Neto, Ana Lúcia de Oliveira, Lúcia Cláudia Leão e Suely Rolnik. Rio de Janeiro : Editora 34, 1996.

FERRACINI, Renato. Café com queijo: corpos em criação. São Paulo:

Fapesp, 2006.

FISCHER, Stela. Processo Colaborativo e experiências de companhias

teatrais brasileiras. São Paulo: Hucitec. 2010.

GOÉS, Maria Cecília. “A natureza social do desenvolvimento psicológico”.

Caderno Cedes 24 – Pensamento e Linguagem. São Paulo: Papirus. 1991.

GUATTARI, Felix. Caosmose: um novo paradigma estético. Trad. Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. São Paulo: Ed. 34, 1992.

ROUBINE, Jean-Jacques. A linguagem da encenação teatral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.

SILVA, Antônio Carlos de Araújo. A encenação no coletivo:

desterritorializações da função do diretor no processo colaborativo. São Paulo, 2008. (Tese Doutorado – ECA – USP)

VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e Linguagem. Trad. Jefferson

Luiz Camargo. 4. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.