A cena ativista do Teatro Núcleo Independente durante a década de 1970

  • Ademir de Almeida Universidade de São Paulo

Resumo

Em 1969, com a implantação do Ato Institucional número 5, instrumento legal que decretou o endurecimento do regime autoritário instalado quatro anos antes, ocorreu um deslocamento do eixo de ação das forças políticas de esquerda, de uma postura vanguardista, com foco no setor estudantil - estratégia que vigorava até então - para a adoção de práticas de engajamento e conscientização junto a movimentos populares. No campo cultural, o teatro alinhado aos setores progressistas da sociedade também é encurralado pelas medidas de policiamento político do Estado (obras são censuradas, espaços são interditados, apartados de seu público e asfixiados financeiramente, e alguns de seus representantes se tornam alvo de perseguição) e, por isso, acompanha as forças políticas que migram para as regiões periféricas. O Teatro de Arena, um dos mais representativos agrupamentos teatrais e espaço de movimentação cultural desse período, foi um desses coletivos artísticos que encerrou suas atividades em virtude do ataque do Estado a cultura de esquerda. Entretanto, muitas das ideias e práticas desenvolvidas pelo Arena sobreviveram e tiveram ressonância, inclusive, pela periferia paulistana, até o final da década de 1970. Um desses desdobramentos foi o Teatro Núcleo Independente - espécie de célula teatral nascida do Arena, que teve a colaboração de Augusto Boal em seus primeiros passos, e ganhou vida própria após a interrupção do seu “grupo mãe” - porém, transformando suas práticas, de acordo com as condições objetivas que o novo contexto social do país apresentava.O foco dessa pesquisa é captar e estudar a experiência do Teatro Núcleo Independente, sobretudo, em sua fase pós-Arena – quando o grupo se abriga no Theatro São Pedro, e tem contato com Fernando Peixoto, durante um período, até deslocar sua ação para a periferia da zona leste de São Paulo, onde atua junto a movimentos populares e associações de bairro, e desenvolve, a partir do teatro, um ativismo cultural, que reverbera, inclusive, na estética do grupo, modificando suas produções.

Biografia do Autor

Ademir de Almeida, Universidade de São Paulo

Departamento de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo.

Referências

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Publicado
2019-05-08
Seção
Artes Cênicas na Rua