Parateatro, contracultura e ascese

Resumo

Dentro do campo teatral, o período da contracultura foi marcado por uma forte oposição à concepção de teatro ocidental mais “tradicional”, ou seja, ao teatro visto como uma disciplina artística em que obras de ordem fundamentalmente estética são criadas pelos artistas — polo produtor, “ativo” — para serem apresentadas diante de espectadores — polo receptor, “passivo”. Uma das experimentações contraculturais mais radicais a romper com essa dicotomia atores-público foi o Parateatropromovido pelo Teatro Laboratório, sob a liderança de JerzyGrotowski. Todavia, ao contrário da moda do “sexo/amor livre” e do “psicodelismo”, traços também marcantes e ao mesmo tempo clichês da contracultura euro-americana, no Parateatro(e antes dele também) é possível identificar algumas características que dialogam com o conceito de ascese. Esse diálogo é reconhecível tanto no sentido mais corriqueiro do termo ascese — mais próximo à conotação dada pelo ascetismo cristão, ligado à ideia de privação dos prazeres “mundanos” (sexo, drogas, gula) — quanto também no sentido originário do termo em grego, askesis, que significaria, dentre outras coisas, o conjunto de exercícios praticados com a finalidade de uma transformação de si, um aperfeiçoamento “espiritual” do sujeito. Nesse sentido, trata-se uma reverberação, um eco da noção de ascese tanto na acepção grega, quanto na concepção do ascetismo cristão e de tradições filosófico-religiosas não ocidentais, tais como do hinduísmo, do budismo, do sufismo, dentre outras. Essa comunicação terá como objetivo explorar as especificidades do Parateatroque se relacionam com as distintas noções de ascese, na contramão das tendências gerais da Contraculura nas Américas e na Europa ocidental.