Para descolonizar nossa formação em interpretação teatral

  • Maria Fernanda Sarmiento Bonilla Universidade Federal da Bahia

Resumo

Este trabalho questiona processos de formação em interpretação teatral utilizados na América Latina que conservam práticas e conhecimentos oriundos da Europa e dos Estados Unidos da América, porém desconhecem, em suas dinâmicas, os contextos locais, supervalorizando padrões externos que não refletem nossas próprias culturas. O argumento principal denuncia como esses processos constroem corpos afastados de nossa territorialidade, despojados da própria identidade e isolados do contato com o seu público. Tais corpos resistem a se comunicar com suas sociedades e não reconhecem momentos históricos e conjunturas sociais como caminhos para a criação e a preparação em interpretação teatral. Dessa forma, este trabalho assinala como a formação acadêmica em artes cênicas privilegia uma perspectiva eurocêntrica que contribui para uma universidade arraigada à colonização, que nega ou suprime os saberes próprios dos lugares onde essa mesma universidade se constitui. Para tal, esta comunicação se baseia em análises de diferentes autores que estudam a universidade latino-americana como um espaço onde transformações divergentes de nossa colonização devem ser estimuladas, identificando alternativas e fontes de conhecimento que permitam novas epistemologias a fim de retratar mais fielmente nossas histórias, identidades, lutas, estéticas e poéticas como latino-americanos. Assim, compõem nossa base conceitual autores como Boaventura de Sousa Santos, Darcy Riveiro, Aníbal Quijano, Enrique Dussel e Paulo Freire. A necessidade de repensar a formação de atrizes e atores que falem desde e para nosso continente é urgente, ainda mais se considerarmos as nossas conjunturas políticas, econômicas e sociais.

Biografia do Autor

Maria Fernanda Sarmiento Bonilla, Universidade Federal da Bahia
Doutorado pelo Programa de Pós-graduação de Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia. Atriz-pesquisadora.

Referências

BARBA, Eugenio. El arte secreta del Actor. Diccionario de Antropología teatral. La Habana: Ediciones Alarcos, 2007.

BONILLA, Maria Fernanda S. Salón: calle latinoamericana. In Jornada Andinas de Literatura Latinoamericana de Estudiantes. 12. Bogotá. Anais. Universidad Nacional de Colombia, 2015.

CHAUÍ, Marilena de Souza. Ventos de progresso: a universidade administrativa. In Bento Prado Júnior (Org.). Descaminhos da educação pós68. São Paulo, Brasiliense, 1980.

CRAIG, Edward Gordon. Da arte do teatro. Lisboa: Arcádia, 1963.

DUSSEL, Enrique. Práxis latinoamericana y filosofia de la liberación. Bogotá: Nueva América, 1983.

DUSSEL, Enrique. Hipotesis para el estudio de latinoamerica en la historia universal. Chaco, Argentina: Resistencia, 1966.

ESTÉVEZ, Abilio. Ceremonias para actores desesperados. Barcelona: Tusquets, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

FREITAS, Paulo Luís. Tornar-se ator: uma análise do ensino de interpretação no Brasil. Campinas, SP: UNICAMP, 1998.

GROTOWSKI, Jerzy. Hacia un teatro pobre. Buenos Aires: Siglo XXI Editores, 2006.

QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder e classificação social. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Orgs.). Epistemologias do Sul. São Paulo; Editora Cortez, 2010.

RIVERA, Virgílio Ariel. La composición dramática: estructura y cánones de los 7 géneros. México: Escenologia, 1989.

RIBEIRO, Darcy. La universidad nueva: un proyecto. Caracas: Fundacion Biblioteca Ayacucho, 2006.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Org.). Epistemologias do Sul. São Paulo; Editora Cortez, 2010.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 2013.

Seção
Observatório de Grupos de Pesquisa Latino-Americanos