6 minutos: para habitar o corpo-encruzilhada

Resumo

O gesto de explicitar a particularidade do próprio corpo, sua identidade e subjetividade é uma poderosa estratégia usada em epistemologias feministas. Na performance artística tal estratégia se atualiza ao desafiar a objetividade desincorporada e os discursos totalizadores que sustentam a posição voyeurística de espectadores e sujeitos neutros. A relevância deste gesto é aguda, pois implica que artista e espectador são responsáveis pela produção de sentido relativa àquilo que se instaura na ação. Interessa pensar as articulações entre a performance e o campo de saber constituído pelos feminismos. Considerando a importância política da esfera pessoal o principal objeto de análise deste texto será a performance 6 minutos, de Camila Bacellar. A ação instaura um estado sensorial interessado em tensionar os limites impostos pela conjuntura global sobre os direitos sexuais e os direitos reprodutivos de corpos que possuem útero. Ao convocar processos existenciais em aliança com a escrita acadêmica busca-se que a produção de conhecimento seja feita desde uma sistematização corporificada de saberes localizados e conhecimentos situados. Já são conhecidos os danos causados pelo sujeito não corporificado. Com isto visa-se uma responsabilidade ética, particularizar a mirada é também tornar-se responsável por aquilo que se aprende a ver. Assim, a ideia de corpo-encruzilhada é convocada neste trabalho para tratar de questões feministas relativas ao modo como a interseccionalidade dos marcadores sociais opera nos corpos, para pensar sobre a relação de intersubjetividade estabelecida entre artista e espectador e, também, para travar um diálogo com discussões descoloniais sobre fronteira e encruzilhada.