O lugar da mulher na Suça: perceptos e afetos no engendramento do corpo feminino nas manifestações tradicionais

Resumo

O presente texto é fruto de um estudo a respeito da espetacularidade do corpo feminino na suça tocantinense, manifestação tradicional que engloba dança e música. Uma tradição centenária que tem como matriz formadora a mistura de rituais oriundos de cosmologias e tradições africanas, indígenas e portuguesas inserida nas festas religiosas de diversas regiões brasileiras, que se reflete nos movimentos e gestos da dança e nos instrumentos musicais. Neste artigo pretendo trazer ao debate aspectos das relações entre gênero e cultura tomando como recorte contextual o feminismo negro (Gonzales, 1982a, 1982b, 2020; Ribeiro, 2020) e a suça, como expressão cultural no estado do Tocantins. Tal proposta de interlocução mostra como a ausência de pesquisas que trazem a voz feminina tem inviabilizado o reconhecimento do lugar e o papel das mulheres na suça, ocultando assim o caminho de sua referência na história. Na tradição nagô a ancestralidade feminina é representada por pássaros, assim destaco o corpo feminino na suça como arquivo vivo, mães-pássaros agindo na produção do seu ninho de tradições. Destarte dar voz para as guardiãs da memória poderá apontar para novas formas de (re)conhecimento da mulher nas manifestações tradicionais rompendo com a invisibilidade do seu lugar no universo da cultura brasileira.

Biografia do Autor

Liubliana Silva Moreira Siqueira, Universidade de Brasília
Professora efetiva da rede municipal de ensino de Palmas-TO, atuando como professora de dança na Escola Municipal Anne Frank (2010-2019) e como colaboradora em cursos de capacitação de professores de escolas públicas e particulares em parceria com universidades, associações e pontos de cultura. Possui graduação em Dança pela Universidade Federal de Viçosa (2005-2009) e Pós-graduação em Linguagens, Cultura, Educação e Tecnologias (2019) pela Universidade Federal do Tocantins, e em Gestão de Projetos Sociais e Captação de Recursos pela Faculdade de Guaraí - TO (2011). Realizou mestrado em Artes pelo programa PROF-ARTES (Stricto sensu) na Universidade de Brasília-DF (2014-2016), pesquisando o corpo em experiência estética no universo lúdico. Atualmente cursa doutorado em Artes Cênicas na UNB-DF (2019). É membro do CONAC/TO - Grupo de Pesquisa e Extensão em Composição Poética Cênica, Narratividade e Construção de Conhecimento na UFT-TO, e do grupo de pesquisa Observatório das Artes na UFT-TO. Foi co-orientadora do Subprojeto de Pesquisa de Iniciação Científica: O desenvolvimento do ensino das artes: gestão, políticas públicas, currículo, formação e práticas de professores no estado do Tocantins (2017). Realizou participações em festivais de dança como bailarina, coreógrafa e jurada. Foi bailarina do Grupo Êxtase de Dança de Viçosa-MG (2005-2009) e integrante da Cia. Contágius de Dança e Teatro de Palmas-TO (2002 - 2014). Participou do Fórum Nacional de Cultura, representando o Estado do Tocantins, nas setoriais de dança, para definição do Plano Nacional de Cultura (2011). Tem como áreas de pesquisa/atuação: Artes Cênicas, Arte-educação, Dança e a Experiência Estética, Dança Educativa, Dança Criativa, Etnocenologia, Corpo feminino nas manifestações tradicionais.

Referências

ANTONACCI, Maria Antonieta. Memórias ancoradas em corpos negros. São Paulo: Educ, 2014.

ANTONACCI, Maria Antonieta. Corpos negros: “arquivo vivo” em epistême de “lógica oral”. In: EpistemologíasdelSur, 2018.

BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1998

BIÃO, Armindo; GREINER, Christine (org). Etnocenologia, textos selecionados. São Paulo: Annablume, 1999.

DELEUZE, Gilles. O abecedário de Gilles Deleuze. Realização de Pierre-André Boutang, produzido pelas Éditions Montparnasse, Paris. No Brasil, foi divulgado pela TV Escola, Ministério da Educação. Tradução e Legendas: Raccord [com modificações]. A série de entrevistas, feita por Claire Parnet, foi filmada nos anos 1988-1989.

GONZALEZ, Lélia. A mulher negra na sociedade brasileira. In: LUZ, Madel T. (Org.). O lugar da mulher: estudos sobre a condição feminina na sociedade atual. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1982.

GONZALEZ, Lélia. "Mulher negra". In: NASCIMENTO, Elisa Larkin (Org.). Guerreiras de natureza: mulher negra, religiosidade e ambiente. São Paulo: Selo Negro, 2008. p. 29-47.

GONZALES, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. In: Rios, Flavia; Lima Márcia (org.). Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

GLISSANT, Édouard. Poética da relação. Lisboa: Sextante, 2011.

IROBI, Esiaba. O que eles trouxeram consigo: carnaval e persistência da performance estética africana na diáspora. Projeto História, São Paulo, n. 44, pp. 273-293, jun. 2012

MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo e da memória: os congados. O Percevejo – Revista de Teatro, Crítica e Estética, Rio de Janeiro, ano 11, n. 12, p. 68-83, 2003.

MARTINS, Leda Maria. Performances do Tempo Espiralar. In: Seminário Leda Maria Martins: Pensamentos e Poéticas, 18 de maio, 2021, Brasília.

RIBEIRO, Djamila. Lugar de fala. São Paulo: Sueli Carneiro; Editora Jandaíra, 2020. (Feminismos Plurais)

VELOSO, Jorge das Graças. Paradoxos e paradigmas: A etnocenologia, os saberes e seus léxicos. In: Repertório, Salvador, nº 26, p.88-94, 2016.

VIEIRA, Nara Córdova; AMOROSO, Daniela Maria. Andeja nos Ventos: pesquisa criação artística das mulheres Corta-Ventos da Banda de Congo José Lúcio Rocha de Airões MG. V Congresso Nacional de Pesquisadores em Dança. Manaus: ANDA, 2018. p. 274-287.

Publicado
2021-12-16
Seção
Etnocenologia