PERMANÊNCIAS PROVISÓRIAS: CORPO E IMAGEM ENTRE PRESENÇA E AUSÊNCIA NO TEATRO DE SAMUEL BECKETT

  • Leonardo Samarino Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo

A força e as virtualidades cênicas no teatro de Samuel Beckett fazem da cena um lugar que cria, constantemente, permanências provisórias. Uma cena que caminha em direção ao mínimo, com traços de decomposição e desintegração corporal, que evidencia certa marca de ausência pelos frequentes apagamentos, imprecisões, desidentificações, impedimentos sobre figuras que estão fadadas a desaparecer. Lugar onde tudo escapa o tempo todo, que pulsa entre o que se vê e o que não se vê, entre presença e ausência, que reverbera na cena sensorialmente enquanto lugar de desfazimento. Oscilação e peculiaridade do traço e do apagamento como processos instáveis em mútua interlocução que problematizam a própria subjetividade. Deformações corporais como uma saída para resistir das formatações rígidas de modos de sentir, pensar e fazer predeterminados para o corpo. E imagem, sonora e visual, como movimento que não se separa do processo de seu próprio desaparecimento.

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Publicado
2018-05-21
Seção
Etnocenologia