A experiência moderna em Flávio de Carvalho

  • Giuliana Martins Simões

Resumo

A idéia deste artigo é observar a atuação de Flávio de Carvalho, propositor de
experimentações marcadas pela recusa a qualquer dogma estabelecido, nos rumos do teatro brasileiro. Em suas invenções artísticas usava o próprio corpo como objeto, atuava como um performer, que, partindo de elementos da própria vida, cria eventos artísticos, atuação que o lançará ao encontro dos embates típicos da arte contemporânea. No caso do teatro por ele elaborado, desaparece a idéia de representação do mundo, através de ações desencadeadas no
presente contínuo. A vida ativa no presente cede espaço à vida onírica na lembrança e na utopia. No texto de O Bailado do deus morto, desaparecem os princípios e o ordenamento da fábula, as cenas são apresentadas sem obedecer à lógica do encadeamento causal, cada cena rompe com a anterior e a narrativa avança através de golpes sonoros e perceptivos.
A função da arte para o encenador paulista não é a de definir ou impor critérios prévios
de interpretação, mas a de fomentar a atitude criativa do público, estimulando a formulação de padrões próprios de análise. Ou seja, é tarefa da arte “acordar as partes adormecidas do espectador. É uma função sugestiva, e deve ser sugestiva antes de ser persuasiva”.
O embate estético desferido por Flávio pode ser visto no conjunto de sua obra. As
percepções, anotadas em livros, em entrevistas e em artigos publicados na imprensa paulistana e carioca nas décadas de 1930 e 1940, são de extrema importância, pois revelam o questionamento moderno da arte presente no pensamento e nas proposições do autor. Seus textos soam com uma pertinência surpreendente se comparados às correntes modernas do pensamento artístico e, ao mesmo tempo, totalmente estranhos se confrontados com a realidade teatral brasileira que os cercavam.

Referências

BRITO, Ronaldo. “O moderno e o contemporâneo”. In: Experiência crítica. Caderno de textos 1. Rio de Janeiro, FUNARTE, 1980.

CARVALHO, Flávio de. Origem animal de deus e O bailado do deus morto. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1973.

.“Teatro antigo e moderno”. Homem do Povo. São Paulo, 31/03/1931.

LEITE, Rui Moreira. Flávio de Carvalho: entre a experiência e a experimentação. Tese de doutorado, Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 1994.

MATTAR, Denise. Flávio de Carvalho: 100 anos de um revolucionário romântico. Rio de Janeiro, CCBB, 1999.

NIETZCHE, Frederico. A Origem da Tragédia. Lisboa, Guimarães Editores, 1985.