As poéticas dos corpos no coletivo matricarias: artes cênicas, mulher e literatura em tempos de pandemia

Resumo

Este trabalho traz considerações acerca das experiências artísticas realizadas pelo Coletivo Matricarias, grupo criado por estudantes secundaristas em 2019, que possui a linguagem da performance como ponto central de sua atuação. Desde sua criação, o coletivo apresentou seus gritos poéticos de resistência, tanto no interior da escola - IFMG Campus Ouro Branco, quanto nas ruas. Em 8 de março de 2020, num evento do 8M, organizado por vários grupos de mulheres, o Coletivo Matricarias fez a apresentação de “Rexistência”. A performance teve a participação especial da bailarina Clarice Barbosa e poemas autorais e canções representaram a presença dos corpos das mulheres no mundo, suas angústias, opressões, buscas e resistências. Contudo, a partir de março de 2020, outros campos de luta foram travados e a pandemia da COVID-19 limitou um dos eixos básicos do grupo: a presença do corpo, da performance, do coletivo. A última produção artística veio em mídia digital: em agosto de 2021, as Matricarias divulgaram em sua rede social Instagram um vídeo-poema sobre “o amor entre mulheres, realizado por mulheres sáficas”. Além de explorar novos suportes e linguagens, o Coletivo passou a fazer reuniões via Google Meet, trabalhando com a leitura e discussão de textos literários de escritoras contemporâneas e obras artísticas de performers brasileiras. Nesse processo, observou-se que uma gama plural de artistas citadas pelo coletivo não dialogava com o conteúdo de arte e literatura da sala de aula das estudantes, mas conversava intensamente com seus corpos e suas histórias. Outra ação do coletivo esteve atrelada à preocupação de compreender a própria performance naquele momento, destacando-se o encontro com a artista Yasmin Formiga para discussão sobre performance: objetos relacionais, dança, música, teatro, fotografia e interatividade. Além disso, conversas com outros coletivos como o Mulheres em Perspectiva trouxeram outros olhares, ajudando a reelaborar essa ausência/presença do corpo. O aprofundamento teórico, na pesquisa, deu-se através de textos de Stela Fischer para discussão sobre a performance como linguagem artística e Daniela Lima para estabelecer uma relação entre o corpo-utópico cunhado por Foucault e o corpo-vetor que passa pela situação da pandemia. Em outro flanco, as discussões das Interseccionalidades em obras de Carla Akotirene, Helena Hirata e Dayanne N. de Conceição de Assis trouxeram abordagens fundamentais para se compreender a posição das diferentes artistas estudadas nas avenidas identitárias. Ao perceber esses cruzamentos, compreende-se o quanto a arte teatral e a literatura de mulheres ainda está ausente nos currículos escolares, mas se descortina na produção experenciada por essas estudantes, que preenchem com as estéticas poéticas de artistas contemporâneas e com suas próprias estéticas autorais a ausência das artes das mulheres no espaço acadêmico ainda patriarcal, branco e cisheteronormativo.

Biografia do Autor

Heleniara Amorim Moura, IFMG (CAMPUS OURO BRANCO)
Doutora em Estudos Literários pela UFMG (2015). Mestre em Letras pela UFSJ (2007). Graduada em Letras pela Universidade Federal de São João del-Rei (2003). Atuou como Professora Substituta do DELAC/UFSJ - Departamento de Letras, Artes e Cultura da Universidade Federal de São João del-Rei na área de Teoria da Literatura e Literatura Brasileira entre novembro de 2005 a dezembro de 2006. Atuou como Professora de Língua Portuguesa e Literatura no Colégio COOPPED em Ouro Branco e nas Prefeituras Municipais de Ouro Branco e Congonhas. 

Professora de Literatura nos cursos integrados e de Arte e Dramaturgia na Graduação de Licenciatura em Pedagogia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais – IFMG – Campus Ouro Branco. Pesquisadora do NEPGRES (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Raça/Etnia e Sexualidade). Atriz amadora da Insuportável Cia. de Teatro. Participante do Coletivo Matricarias.

Marie Luce Tavares, IFMG (CAMPUS OURO BRANCO)

Professora das disciplinas de Educação Física nos cursos integrados, das disciplinas Fundamentos Metodológicos das Práticas Corporais e Escola, Culturas e Diversidade na Graduação de Licenciatura em Pedagogia, e professora do Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais – IFMG – Campus Ouro Branco. Pesquisadora do NEPGRES (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Raça/Etnia e Sexualidade). Participante do Coletivo Matricarias e do Coletivo IF Negro.

Mônica de Freitas, IFMG (CAMPUS OURO BRANCO)

Professora de Língua Inglesa nos cursos integrados e na Graduação no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais – IFMG – Campus Ouro Branco. Pesquisadora do NEPGRES (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Raça/Etnia e Sexualidade). Participante do Coletivo Matricarias e do Coletivo IF Negro.

Heloísa de Souza Rocha, IFMG (CAMPUS OURO BRANCO)
Estudante do Ensino Técnico integrado em Informática no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), bolsista PIBIC-Jr do IFMG durante o ano de 2020 no projeto "Performances e poéticas do corpo: Mulheres em verso". Membra do NEPGRES (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Raça/Etnia e Sexualidade). Atualmente, cursa a graduação em Ciências Sociais pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Idealizadora e participante da construção do Coletivo Matricarias.
Luciana Baêta Silva, IFMG (CAMPUS OURO BRANCO)
Estudante do Ensino Técnico integrado em Informática no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), bolsista voluntária durante o ano de 2020 no projeto "Performances e poéticas do corpo: Mulheres em verso". Membra do NEPGRES (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Raça/Etnia e Sexualidade). Idealizadora e participante da construção do Coletivo Matricarias.
Paloma Fernanda Sabino Tavares, IFMG (CAMPUS OURO BRANCO)

Estudante do Ensino Técnico integrado em Informática no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), bolsista PIBIC-Jr do IFMG durante o ano de 2020 no projeto "Performances e poéticas do corpo: Mulheres em verso". Membra do NEPGRES (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Raça/Etnia e Sexualidade). Idealizadora e participante da construção do Coletivo Matricarias.

Referências

AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

ASSIS, Dayane N. Conceição de. Interseccionalidades. Salvador: UFBA, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências; Superintendência de Educação a Distância, 2019.

FISCHER, Stela. Por que fazemos performance e ativismo feminista? In: Revista Arte da Cena. Goiânia, v.3, n.1, p. 08-20, jan-jun/2017. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/artce/article/view/46166. Acesso em: 25 fev. 2020.

HIRATA, Helena. Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais. In: Tempo Social - Revista de Sociologia USP, v.26, n.1, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702014000100005. Acesso: jul. 2020.

LIMA, Daniela. Corpo-vetor e corpo-utópico. N-1 edições, [s. l.], 2020. Disponível em: https://www.n-1edicoes.org/textos/101. Acesso em: 12 fev. 2021.

MOURA, Heleniara Amorim. Corpos Dilacerados: Mulher e Ficção na Obra de Maria Lysia Corrêa de Araújo. In: VII Congresso Internacional em Estudos Culturais - Performatividades de género na democracia ameaçada. Aveiro, Portugal: Grácio Editor, 2020. v. 01. p. 31-39. Disponível em: https://ria.ua.pt/handle/10773/29823. Acesso em: 29 abr. 2021.

MOURA, Heleniara Amorim. Passagens da Memória: Ensaio biográfico sobre a artista Lysia de Araújo. 2015. 271 f. Tese (Doutorado em Literatura Comparada e Teoria da Literatura) - Faculdade de Letras da UFMG, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

SANTOS, José Mário Peixoto. Breve Histórico Da “Performance Art” no Brasil e no Mundo. Revista de Arte Ohun, [s. l.], dez. 2008. Disponível em: http://www.revistaohun.ufba.br/pdf/ze_mario.pdf. Acesso em: 12 fev. 2021.

TAVARES, Marie Luce. Entre o dito, o não dito e o que se expressa: juventudes, experiências e o currículo-lazer na escola. 2020. 220 f. Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

Publicado
2021-12-16
Seção
Pedagogia das Artes Cênicas