O DRAMA POÉTICO DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO CRIA SEUS PRECURSORES

  • Braz Pinto Jr.

Resumo

Nesse trabalho apresentamos a poesia de João Cabral de Melo Neto inserida
em um processo de revisão da tradição literária e dramática de língua inglesa.
Demonstramos como o drama poético Morte e vida severina pode ser inserido
em um diálogo intertextual com o poema Os homens ocos de T.S. Eliot ou a
novela O coração das trevas de Joseph Conrad. Desde sua estréia no palco
em 1965, Morte e vida severina vem sendo considerado um clássico do teatro
brasileiro, não apenas pela inserção no universo estético e sociológico do
retirante nordestino, mas também pelos elementos tradicionais presentes na
obra, com destaque para o caráter alegórico de sua estrutura. Cabral
estabelece, no “auto de natal pernambucano”, um diálogo não somente com as
fontes ibéricas, mas com a tradição poética de contextos anglófonos. Sua obra,
composta sempre de forma equilibrada e coerente, mescla tanto elementos
populares e clássicos quanto gêneros diferentes como poesia e teatro, e
permite múltiplas leituras e interpretações. Os processos criativos de Cabral,
calcados na dinâmica da apropriação textual, um procedimento complexo,
dialógico e multidirecional, e a revisão crítica de sua obra, são temas da nossa
análise, orientada pela perspectiva da estética da recepção, que resulta na
leitura comparada de O coração das trevas, Os homens ocos e Morte e vida
Severina e nos possibilita estabelecer alguns pontos de convergência ou
intertextualidades tanto no que diz respeito à “alegoria do rio”
(Congo/Capibaribe) quanto à escolha semântica.

Referências

BORGES, J. L. Kafka y sus precursores. Otras inquisiones. Buenos Aires:

Alianza Editorial, 1960, p.107-109.

CONRAD, J. O coração das trevas. Porto Alegre: L e PM, 2005.

ELIOT, T. S. Obra completa: poesia.Trad. Ivan Junqueira. São Paulo: Arx, 2004.

JUNQUEIRA, Ivan. “Eliot e a poética do fragmento” In: ELIOT, T. S. Obra

completa: poesia.Trad. Ivan Junqueira. São Paulo: Arx, 2004.

MELO NETO, J. C. Obra completa. Org. Marly de Oliveira. Rio de Janeiro:

Nova Aguilar, 1999.