O paradoxo incorporado nas práticas de atuação
Resumo
A cisão entre corpo-mente e o modo de pensar/viver no ocidente, de forma muitas vezes dualista, é fruto de influências desde Platão. A busca por uma outra forma de experiência, na qual corpomente estejam integrados e não façam parte de realidades opostas ou hierarquizadas, por um pensamento paradoxal, vem sendo desenvolvida por alguns pensadores desse século no ocidente. Já para as tradições e filosofias orientais, há milhares de anos o pensamento/prática paradoxal é uma questão irrevogável. O interesse de grandes pensadores/fazedores do teatro mundial por práticas tradicionais do Oriente não é uma novidade: Meyerhold, Mnouchkine, Stanislavski, Grotowski, Peter Brook, Eugenio Barba e Artaud, por exemplo, buscaram, em diversas culturas orientais, a assimilação de técnicas que iriam influenciar desde o modo de treinamento dos atores até a estética de suas composições de espetáculos teatrais. A partir da análise de práticas de workshops teatrais já realizados este texto pretende discutir fundamentos oriundos de tradições orientais como a yoga, a meditação e o conceito japonês irimi (“escolher a morte”) em desdobramentos práticos na preparação do ator, com foco na experiência do vazio, no saber incorporado paradoxal e no ciclo de viver e morrer na criação.Referências
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