A pergunta sobre os limites do corpo como instauradora da performance: propostas poético-pedagógicas em dança
Resumo
Este artigo faz parte de uma pesquisa poética que abrange produçõesartísticas em dança. Assim, o corpo contínuo ou algodãozado, é apresentado
não como um conceito, mas como uma noção que opera construindo obras.
Esse termo é uma imagem cunhada no âmbito da produção artística e
pedagógica da autora e procura dar conta de um entendimento de um corpo
que não se reduz ao biológico, um corpo que, uma vez experimentado,
desdobra-se em imagens, conceitos, palavras, sensações, impossibilitando o
encontro com uma realidade última ou com um eu. Esse corpo também se
desdobra no espaço, ao qual se entrega, do qual depende e com o qual é
dinamicamente formado. Nesse campo de um eu problemático, o ponto de
vista em primeira pessoa, a via da escuta das sensações, procura ser uma
ferramenta de acesso para que se possa perceber os jogos de poder, de
definições de realidade e conceitos — e, portanto, de arte, de cena e de corpo
dançante — reiterados nas ações corporais, entendidas como idênticas a
conceitos e imagens. Como essa experiência não encontra um ponto de
fundação, passa a ser entendida como detonadora de um processo de criação
permanente, confundindo arte e vida e solicitando ao fazer artístico a
responsabilidade por explicitar as convenções que o legitimam, bem como pela
proposição de outros modos de fazer. Daí a necessidade de compreender um
processo artístico à luz das tradições que informam seus modos de fazer, ou,
dito de outra maneira, que lhe subjetivam. No caso desta pesquisa, esta
tradição abrange o legado da geração da Judson Church, ou da chamada
dança pós-moderna norte-americana dos anos 1960 e 1970, especialmente no
que se refere ao uso de técnicas de educação somática proposto como
procedimento artístico por esses últimos. A partir de Lancri e Pareyson, a
comunicação procura explicitar a filiação de tais questões metodológicas à
pesquisa em dança, que, diversamente da pesquisa sobre dança, está focada
na produção artística ela mesma como seu fim e meio de reflexão. Ao longo
dos anos da pesquisa, o fazer artístico foi demandando a complexificação do
entendimento do corpo algodãozado, desembocando na própria abordagem da
escrita aqui presente como um de seus desdobramentos poéticos.
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