Narrativas de experiências inventadas: palavras de uma narratriz
Resumo
Este trabalho é um recorte da pesquisa de mestrado em andamento “Performances curriculares de teatro(s) na educação básica: perspectivas de uma narratriz/docente”, que visa produzir cartograficamente relações entre a performance narrativa e o ensinar teatro na educação básica. Na primeira etapa da pesquisa, percorro espaços e pessoas que me fizeram/fazem encontrar o ofício da narração de histórias e nele reconhecer meu lugar de criação em arte. Para isso, tenho produzido registros escritos, sonoros e imagéticos para elaborar em palavras o que chamo corp/oralidade da narratriz. Eles são realizados antes, durante e depois de apresentações de espetáculos da Cia Agora Eu Era (Recife-PE), na qual exerço diferentes papéis, dentre eles narração das histórias e encenação dos espetáculos. Neste artigo há um arranjo fictício, um passeio por perguntas sobre as singularidades de uma contadora de histórias e atriz que vai se aquarelando, encontrando cores para anunciar-se narratriz. Nesta construção, tenho dialogado com autoras/es que, como a água para aquarela, me dão suporte e transformam o meu corpo narrativo, tais como: Walter Benjamin (1987), no clássico texto O narrador; Regina Machado (2015) com seu estudos sobre a arte da palavra e da escuta; Gislayne Avelar Matos (2014; 2015) sobre a poética do contador de histórias; Jorge Larrosa (2014) nos seus ditos sobre a palavra e a oralidade; e Kátia Canton (2014) com o conceito de narrativas enviesadas. É parte das minhas buscas produzir estas questões em rizoma (Deleuze e Guattari, 1995), num corpo perguntando de si e do que o compõe, um corpo-rizoma que transita na oralidade cotidiana e dela vai criando redes para uma corp/oralidade descotidiana a ser inventada, principalmente, no encontro com as/os ouvintes performers. A “abertura da atenção do cartógrafo” (Kastrup, 2015) tem contribuído para pensar especificidades de estar em cena na performance narrativa, o que me faz pensar que esta corp/oralidade que a narratriz busca instaurar faz dela uma cartógrafa das palavras.Referências
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