Minha saia gira: complexidades costuradas na barra da saia
Resumo
A investigação da Performance das Saias de Axé vem sendo elaborada como estudo de doutoramento em Artes Cênicas junto ao PPGAC-Unirio. Como Saias de Axé estão compreendidas aquelas utilizadas por mulheres no espaço-tempo de seus terreiros de Candomblé, nos quais exercem seus papéis e funções no cotidiano e liturgia da tradição. A pesquisa propõe que as Saias de Axé, em seus movimentos circulares, revelam uma rede de memórias e saberes construídos na esfera do seu relacionamento com a ancestralidade. A tríade que sustenta a relação conceitual dessa pesquisa – Saia-Mulher-Candomblé – fricciona o corpo feminino negro como autoria e eixo de perpetuação de tradições que mantém vivos corpo e alma através das espirais do tempo. Neste trabalho, portanto, compartilho as considerações processuais da atualidade da investigação, buscando provocar-nos a refletir acerca do não interesse desta pesquisa em inventariar as recorrentemente ditas origens europeias das saias das mulheres de terreiro, de maneira a nos colocarmos no exercício de buscar transformar nossos paradigmas de construção de pensamento acerca das experiências de afro-referência.Referências
AUGRAS, Monique Rose Aimee. O duplo e a metamorfose: a identidade mítica em comunidades nagô. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
BARROS, José Flavio Pessoa de. As comunidades religiosas negras do Rio de Janeiro. In: LEMOS, Maria Teresa Toríbio Brittes; BAHIA, Luiz Henrique Nunes; BARROS, José Flavio Pessoa de (Org.). Brasil: cinco séculos de memória e história: relações internacionais. Rio de Janeiro: UERJ, INTERCON, NUSEG, 1999.
BARROS, José Flavio Pessoa de. Mito, memória e história: a música sacra de Xangô no Brasil. In: CONDURU, Roberto; SIQUEIRA, Vera Beatriz (Org.). Políticas públicas de cultura do estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Uerj, Rede Sirius: FAPERJ, 2003.
BARROS, José Flavio Pessoa de. O espaço sagrado no Candomblé Nagô. In: LEMOS, Maria Teresa Toríbio Brittes; MORAES, Nilson Alves de; PARENTE, Paulo André Letra (Org.). Memória e identidade. Rio de Janeiro: 7 letras, 2000.
BARROS, Marcelo (Org.). O Candomblé bem explicado (Nações Bantu, Iorubá e Fon). Rio de Janeiro: Pallas, 2011.
BENISTE, José. Dicionário Yorubá – português. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.
BITTENCOURT, Renata. Modos de negra, modos de branca: o retrato “baiana” a imagem da mulher na arte do século XIX. Dissertação (Mestrado em História da Arte e da Cultura), IFCH, Unicamp, 2005.
BRANDÃO, Gersonice Equede Sinha. Equede: a mãe de todos - Terreiro da Casa Branca. Org. Alexandre Lírio e Dadá Jaques. Salvador, BA: Barabô, 2016.
CONDURU, Roberto. Das casas às roças: comunidades de candomblé no Rio de Janeiro desde o fim do século XIX. Topoi, v. 11, n. 21, jul.-dez. 2010, p. 178-203.
COSSARD, Gisele Omindarewá. Awó: o mistério dos Orixás. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2011.
LIGIÉRO, Zeca. Corpo a corpo: estudo das performances brasileiras. Rio de Janeiro: Garamond, 2011.
LIGIÉRO, Zeca. Iniciação ao Candomblé. Rio de Janeiro: Nova Era, 9ªed., 2006.
LODY, Raul. Moda e história: as indumentárias das mulheres de fé. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2015.
MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar. In: Performance, exílio, fronteiras, errâncias territoriais e textuais. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2002, v. 1, p. 69-92.
MOURA, Carlos Eugênio Marcondes (Org.). Candomblé: religião do corpo e da alma: tipos psicológicos nas religiões afrobrasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, 2000.
OGBEBARA, Awofa. Igbadu: a cabaça da existência. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.
OLIVEIRA, Eduardo David. Cosmovisão africana no Brasil: elementos da filosofia afrodescendente. Fortaleza: LCR, 2003.
OLIVEIRA, Eduardo David. Epistemologia da ancestralidade. In: Entrelugares: Revista de Sociopoética e Abordagens Afins, v. 1, pp. 1-10, 2009.
OLIVEIRA, Rafael Soares. Feitiço de Oxum. Tese (Doutorado em Ciências Sociais), UFBA, 2005.
PARÉS, Luis Nicolau. A formação do Candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia. 2ª ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007.
RELIGIOSIDADE AFROBRASILEIRA 6 O Xirê. Direção: Rafael Eiras. Produção: Mandinga Produções, 2010. 5’12’’. Disponível em: https://vimeo.com/16142502. Acesso em: 14 ago. 2018.
SCHECHNER, Richard. O que é performance. In: Revista O percevejo. Rio de Janeiro: UNIRIO - Programa de Pós-Graduação em Teatro, v.12, n.11, 2003.
SOARES, Cecília Moreira. As ganhadeiras: mulher e resistência negra em Salvador no século XIX. In: Revista Afro-Ásia, Salvador: UFBA, v.17, p. 57-71, 1996.
SODRÉ, Muniz. Força e território. In: O terreiro e a cidade. Rio de Janeiro: Imago Ed.; Salvador, BA: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 2002.
THOMPSON, Robert Farris. Flash of the spirit: arte e filosofia africana e afro-americana. Tradução Tuca Magalhães. São Paulo: Museu Afro Brasil, 2011.
VERGER, Pierre Fatumbi. A contribuição especial das mulheres ao Candomblé do Brasil. In: Artigos Tomo I. São Paulo, Editora Corrupio, 1992.