A presença na arte da performance: territórios de experimentação, subjetivação e encontro
Resumo
Olhar a presença na arte da performance é uma tarefa capciosa. O fazer artístico contemporâneo transforma-se constantemente segundo afetações ético-estético-políticas, onde, em uma análise mais atenta, seria possível apontar algumas camadas vinculadas aos processos de criação, construção de presença e execução. Esse estudo propõe a abordagem da presença na arte da performance por meio de uma construção heterogênea e sucessiva: treinamento (territórios de experimentação), produção de subjetividade (subjetivação) e relações com a audiência, espectador e contexto (encontro). Consideraremos o treinamento como um território de experimentação que visa potenciar as relações com os corpos, o outro e o ambiente, criando um corpo permeado por intensidades e conectado com o tempo presente. Outro ponto que acreditamos estar implicado na construção de presença nas artes da performance é a produção de subjetividade, que propõe uma corporeidade ao artista e sua forma de olhar o mundo, seu modo de existir em processos de subjetivação. Por último, o encontro com quem o assiste e se relaciona, onde seriam partilhadas as sensibilidades construídas no treinamento e as subjetivações implicadas nos processos. Assim, quando o trabalho do performer atinge o público, pode gestar uma composição de desejos e forças que podem gerar agenciamentos ético-estético-políticos nos corpos, convocando-os a entrarem em certo plano de composição. Como se dá a construção de presença nas artes da performance, considerando o papel do treinamento, da subjetivação e do encontro? A pesquisa aqui apresentada se dá por um processo cartográfico junto ao grupo de pesquisa Asfalto – texturas entre artes e filosofias, que propõe certos procedimentos para experimentar e pensar a arte da performance na sua potência de delirar novos modos de existir no mundo. Portanto, pretende-se olhar para os processos desde a construção da presença junto aos treinamentos do grupo, perpassando pelos processos de subjetivação ali germinados e chegando ao encontro dos corpos e afetos que entram em relações durante as intervenções performáticas.Referências
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